11 novembro 2024

Confessionalismo e uma Igreja Florescente

Algumas pessoas estão inclinadas a pensar que o confessionalismo tem um efeito sufocante na igreja. Elas presumem que a adesão a credos e confissões baseados na Bíblia inibe a vitalidade ou a liberdade. Para elas, a igreja tem mais a ver com relacionamento e desconfiam de coisas mais formais e menos subjetivas. Outras, querem ser tão flexíveis e inclusivas quanto possível, para atrair a outros, e minimizam a doutrina. Esses preconceitos sobre o confessionalismo são válidos? Eles são consistentes com as Escrituras? É notável, de fato, a frequência com que o crescimento da fé está ligado ao crescimento pessoal e coletivo dos crentes nas Escrituras.

Adotar e usar uma confissão de fé bíblica não garante que a vida de uma congregação específica seja tão saudável quanto deveria ser. Será, no entanto, para proteger contra certas doenças espirituais que vêm do falso ensino. Em Efésios 4, o apóstolo Paulo nos diz que a igreja deve florescer por meio da verdade. Ela é destinada a ser edificada no amor, quando falamos a verdade em amor (Efésios 4:13 e 15). Devemos todos chegar “à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. Mas isso não pode acontecer se formos como meninos, “levados em roda por todo o vento de doutrina”. Ao “falar a verdade em amor” a igreja deve crescer “em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:14-15).

Quanto menos a verdade da Bíblia confessamos, menos vitalidade temos. Os cristãos devem resistir ao erro e manter a verdade e assim andar em Cristo, sendo arraigados, edificados e estabelecidos na fé (Colossenses 2:6-7). A Bíblia não é minimalista no modo como declara a verdade e nem nós deveríamos ser. Uma confissão completa de fé convida os cristãos a explorar e valorizar o panorama da verdade de Deus e tornarem-se maduros em seu entendimento. Uma confissão ajuda a igreja a cumprir sua comissão de fazer discípulos espiritualmente maduros (Mateus 28:20).

A Importância das Confissões

Deus nos deu a Sua Palavra para que tenhamos a informação que Ele quer que saibamos. Uma confissão de fé é colocarmos em nossas próprias palavras o que entendemos que Deus está dizendo em Sua Palavra. Algumas pessoas dizem que não têm credo, a não ser a Bíblia. Mas elas ainda têm sua própria interpretação do que a Bíblia ensina. Elas acreditam ou não acreditam na Trindade, por exemplo, ou na justificação somente pela fé. Elas simplesmente não escreveram suas crenças de forma sistemática. Elas têm um credo, só que não é um que está publicamente disponível.

Enquanto isso, todos os tipos de hereges podem citar a Bíblia. Então, se nos restringimos a usar apenas as palavras da Escritura, isso seria uma maneira inadequada de declarar a verdade. Quando alguém cita a Escritura, é sempre legítimo perguntar: “O que você quer dizer com isso?” Dizer: “Eu só acredito na Bíblia” não tem sentido, a menos que isso seja definido mais adiante. Quando uma igreja anota seu entendimento do que a Bíblia ensina, ela permite que qualquer um veja em que ela acredita, e também ajuda a igreja a alcançar clareza em sua missão de dizer ao mundo o que a Palavra de Deus diz. É por isso que Judas nos exorta a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Judas 3). Paulo encarregou Timóteo de manter firme o “modelo das sãs palavras” e de guardar “o bom depósito” (2 Timóteo 1:13-14).

Anthony Tuckney (1599-1670) desempenhou um papel fundamental na formação da Confissão de Fé de Westminster. Ele usa essas palavras de 2 Timóteo 1:13 para explicar o valor das confissões. Ele define confissões como uma forma de estabelecer a verdade de Deus de uma maneira ordenada. Elas reúnem as verdades que estão espalhadas por toda a Escritura. Ele então explica alguns dos benefícios de uma confissão.

Confissões nos Ajudam a Crescer na Verdade

Modelos de sãs palavras têm sido usados como declarações, não apenas daquilo em que nós mesmos acreditamos, mas também daquilo que pensamos ser o que todos deveriam crer. Também desejamos e exigimos que todos aqueles com quem nos unimos na comunhão mais próxima da igreja devem professá-las ou pelo menos não contradizê-las abertamente. Foi assim com os apóstolos no que eles decidiram em Atos 15, e é com as igrejas e suas confissões até hoje; e assim poderá ser sempre. Quando surgem controvérsias, elas podem ser melhor compreendidas e resolvidas com a ajuda de tais confissões. Elas também podem ser um bom depósito (2 Timóteo 1:14) a ser dado à posteridade, como legados ou heranças da fé de seus antepassados.

Confissões nos Ajudam a Crescer em União

As confissões não são apenas emblemas de nossa comunhão na igreja cristã, mas também são de grande ajuda e podem favorecê-la. Por este meio, as divisões problemáticas podem ser evitadas e a paz da igreja melhor preservada. Este é um benefício quando todos professamos a mesma verdade, e todos dizemos “a mesma coisa” e somos “unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” (1 Coríntios 1:10).

Confissões nos Ajudam a Crescer em Paz

O fracasso em se manter mais próximo de tais “modelos de sãs palavras” permitiu a cada um falar e escrever as fantasias vãs de seu próprio coração e espalhar as mais terríveis heresias e blasfêmias com impunidade. Isso nos despedaçou e nos dividiu. Que o Senhor em misericórdia cure rapidamente esses cortes e rupturas. Um meio especial para curar isso é manter firme o modelo de sãs palavras (2 Timóteo 1:13).

Confissões nos Ajudam a Crescer em Força

Os apóstolos formularam suas decisões para ajudar aqueles que eram fracos (Atos 15:24) e uma confissão faz isso também. As verdades espalhadas por toda a Escritura estão reunidas em uma sinopse para que possamos ver com mais clareza. Onde há coisas mais obscuramente expressas, elas são mais familiarmente apresentadas àqueles de entendimento mais fraco.

Confissões nos Ajudam a Crescer em Discernimento

Confissões ajudam a descobrir e repelir sedutores e subversores das almas do povo de Deus (Atos 15:24). A mesma cerca que mantém o cervo evita a fera voraz. Elas são uma cerca para a vinha e portanto são de muito bom uso na igreja. Alguns venenos dificilmente podem ser detectados no início, mas como a boca toma sua comida, as ovelhas do pasto de Cristo discernem, por um instinto divino, que alimento é saudável e aquele que é diferente disso. Não são apenas aqueles que têm seus sentidos exercitados para discernir o bem e o mal, até mesmo o bebê recém-nascido tem esse paladar. Tão logo é feito participante da natureza divina, pode dizer quando o leite sincero da Palavra é adulterado (embora talvez não de que maneira). Um cristão piedoso (que tem um coração melhor do que a cabeça) já teve seu espírito se levantando contra algo que ele ouviu em um sermão, mas ele não podia dizer por quê. Depois foi-lhe mostrado que era uma doutrina muito corrupta.

Confissões nos Ajudam a Crescer em Saúde

Um modelo de sãs palavras é especialmente aquele pelo qual eles se recuperam e ganham saúde e força e assim prosperam. O bebê recém-nascido engorda e cresce pelo leite sincero da Palavra (1 Pedro 2:2). É um solo ruim aquele em que as plantas boas estão famintas ou doentes. É provável que seja uma dieta saudável se os homens (de outra forma bem e com saúde) não prosperam nela? Uma boa árvore (nosso Salvador nos diz) produz bons frutos e o mesmo pode ser dito da boa doutrina. Embora, pela corrupção dos corações dos homens, a boa doutrina nem sempre produza bons frutos em suas vidas, ainda que a má doutrina produza naturalmente o que é mau e abominável. Mas vamos continuamente estimar a comida espiritual saudável. O homem de Deus vive e prospera com isso e faz a vontade de Deus com alegria. Como Elias (que passou quarenta dias e quarenta noites na força do que ele comeu), o cristão continua na força desse alimento através do deserto deste mundo até chegar ao monte de Deus. Um coração sadio se deleita e prospera pela sã doutrina. Uma vez que o homem não vive só de pão, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus, não é suficiente que estas sãs palavras tenham a aprovação do homem. Elas devem ser não apenas palavras aceitáveis, mas baseadas no que Deus instituiu, elas devem ser palavras da verdade, palavras sábias dadas pelo único Pastor.

Conclusão

Assim, certifique-se de conservar o “modelo das sãs palavras” (2 Timóteo 1:13). Como Cristo disse à igreja de Tiatira: “mas o que tendes, retende-o até que eu venha” (Apocalipse 2:25). Certifique-se de permanecer firme, tome cuidado para que você não seja roubado dele, mas tenha certeza que você o tem. Em várias passagens (Apocalipse 6:9 e Tito 1:9), manter-se firme significa que mantemos a verdade tão firmemente contra toda oposição que nenhuma força do homem ou do diabo pode forçá-la a se apartar de nós, mas que a guardamos firme contra todos.

A verdade é o bom depósito do céu (2 Timóteo 1:14) a qual Deus nos confiou. Nossas almas são o depósito (2 Timóteo 1:12) com o qual confiamos em Deus. Devemos ser tão cuidadosos com a Sua promessa quanto desejamos que ela seja nossa. Certifique-se de que seremos chamados para isso, e quão solene será se formos como o descrito em 1 Reis 20:39-40.

Este é o legado que nos foi dado pelos nossos piedosos antepassados, não deveríamos igualmente ter o cuidado de transmiti-lo à nossa posteridade (Salmos 78:3-4)? Os mártires o selaram com seu sangue, seremos culpados disso por nossa infidelidade? Esta é a melhor parte da herança de nossos filhos, como foi a lei (Deuteronômio 33:4). Certifique-se de que nossos antepassados não se envergonhem de nós e de nossa posteridade na ressurreição por trairmos a verdade de Deus e nossa fé. Manter-se firme é a ordem para muitas das igrejas descritas em Apocalipse 2 e 3, tanto as melhores quanto as piores. Manter-nos firmes pode nos levar a disputas, mas se formos fiéis no conflito, podemos ter certeza da conquista.


0 comments:

Postar um comentário