A subscrição confessional representa a adesão formal e consciente a um conjunto específico de doutrinas e crenças baseadas nas Escrituras Sagradas, geralmente expressas em credos e confissões, como os Padrões de Westminster (Confissão de Fé e seus catecismos Maior e Breve). Essa adesão vai além do simples acordo intelectual, implicando um compromisso pessoal com a verdade revelada na Palavra de Deus e com a comunidade que a confessa.
A aceitação aos símbolos de fé parte do pressuposto de que a fé cristã não é uma construção individual, mas sim um corpo de doutrinas revelado por Deus nas Escrituras. A subscrição a um credo ou confissão significa concordar com a interpretação da Escritura expressa naquele documento, reconhecendo a autoridade da igreja na definição da fé. A igreja, guiada pelo Espírito Santo, tem a responsabilidade de interpretar e transmitir a fé cristã de forma fiel. A subscrição confessional, nesse contexto, significa reconhecer essa autoridade e submeter-se ao ensino da igreja.
A subscrição confessional implica um compromisso de ensinar e viver de acordo com as doutrinas professadas nas Escrituras Sagradas, tanto na vida pessoal quanto no ministério. Pastores e líderes que subscrevem a um credo ou confissão assumem a responsabilidade de transmitir a fé de forma íntegra às próximas gerações.
Filosofias que Levam à Rejeição da Confessionalidade
É importante reconhecer que existem objeções à ideia de se subscrever a credos e confissões. Podemos inferir algumas correntes "filosóficas" dentro das igrejas que podem contribuir para a rejeição da confessionalidade:
● Individualismo: A ênfase na experiência pessoal e na liberdade individual pode levar à desvalorização da tradição e da autoridade da igreja na interpretação das Escrituras. Dentro das igrejas é comum se aceitar o movimento "nenhum Credo senão Cristo", que defende a primazia da experiência individual sobre qualquer credo formal. Essa visão pode levar a uma "privatização das convicções", onde cada indivíduo se sente no direito de interpretar as Escrituras à sua maneira, sem se submeter a qualquer autoridade externa.
● Relativismo: A crença de que não existem verdades absolutas e que a verdade é relativa a cada indivíduo ou cultura pode minar a importância de credos e confissões como expressões de verdades objetivas. Se a verdade é relativa, a necessidade de definir e defender um conjunto específico de doutrinas se torna questionável.
● Pragmatismo: A ênfase na utilidade prática e nos resultados imediatos pode levar à rejeição de credos e confissões, que podem ser vistos como teóricos e irrelevantes para a vida cristã. A busca por métodos "inovadores" de evangelização e crescimento da igreja pode levar à negligência da doutrina e da tradição em favor de estratégias que prometem resultados rápidos e visíveis.
● Anti-intelectualismo: A desconfiança da razão e da teologia sistemática pode levar à rejeição de credos e confissões como expressões de um cristianismo intelectualizado e distante da experiência do crente comum. Os púlpitos das igrejas estão fazendo uso de "slogans vagos" em detrimento de uma compreensão precisa das Escrituras. Essa tendência sugere uma preferência por mensagens simples e emocionais em detrimento do estudo aprofundado da doutrina.
A Confessionalidade como Ordenança Bíblica
Aderir a um conjunto de doutrinas expressas em credos e confissões, implica uma convicção profunda e um compromisso com essas mesmas doutrinas. Destacamos que a confessionalidade é, antes de tudo, uma ordenança bíblica, enraizada na própria natureza da fé cristã.
Quero chamar a atenção para o texto de Efésios 4:14 que diz: "Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente". Paulo fala sobre a importância de amadurecer na fé e ser bem fundamentado na verdade do Evangelho. Ele usa a metáfora de "vento de doutrina" para descrever falsas crenças ou ensinamentos que podem desviar os cristãos do caminho de Deus. Esses "ventos" são apresentados como estratégias astutas e enganosas que confundem e enfraquecem aqueles que não têm raízes firmes na Palavra de Deus.
Embora a expressão "vento de doutrina" seja específica de Efésios 4:14, outros versículos abordam temas similares, alertando contra falsos ensinamentos e instabilidade espiritual. Colossenses 2:8 alerta para termos "...cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo". Este versículo alerta contra doutrinas baseadas em tradições humanas e filosofias contrárias à verdade de Cristo. 2 Timóteo 4:3-4 fala de um período de tempo "... em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo coceira nos ouvidos, amontoarão para si mestres conforme as suas próprias cobiças; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas". Aqui, Paulo prevê que as pessoas buscarão ensinamentos que satisfaçam seus desejos, rejeitando a verdade bíblica.
A Confessionalidade como Elo da Unidade na Igreja
A confessionalidade desempenha um papel crucial na promoção da unidade da Igreja. Podemos argumentar que a confissão da mesma fé, expressa em documentos como os Padrões de Westminster, serve como um eficiente elo que une os cristãos em diferentes tempos e lugares.
1. Padrão Comum de Fé
● Unindo a Igreja Através dos Tempos: A confessionalidade conecta a igreja do presente com a igreja do passado, estabelecendo um fio condutor de fé que atravessa gerações. A subscrição a um credo histórico, como os Padrões de Westminster, significa unir-se à longa linhagem de cristãos que confessaram a mesma fé ao longo dos séculos. Essa conexão com a tradição da igreja oferece um senso de identidade e pertencimento, fortalecendo a unidade do corpo de Cristo.
● Base para o Diálogo e a Comunhão: os credos e confissões reformados fornecem um vocabulário comum e um conjunto claro de doutrinas, facilitando o diálogo e a comunhão entre cristãos de diferentes origens e contextos. Em um mundo marcado por diferentes interpretações da Bíblia, os credos e confissões servem como um ponto de referência objetivo para o diálogo teológico. Ao concordarem com um padrão comum de fé, os cristãos podem se concentrar nas áreas de convergência, promovendo a compreensão mútua e o respeito, mesmo em meio a divergências.
2. Prevenção da Fragmentação Doutrinária
● Proteção Contra Erros e Heresias: A confessionalidade serve como um "muro de proteção" contra a proliferação de erros e heresias, preservando a pureza da fé cristã. Os credos e confissões definem os limites da ortodoxia, identificando e rejeitando ensinos que se desviam da verdade bíblica. Essa função de delimitação doutrinária é crucial para a unidade da igreja, pois impede a fragmentação causada pela disseminação de falsas doutrinas.
● Combate à Subjetividade e ao Individualismo: A confessionalidade se opõe à tendência individualista de interpretar a Bíblia de forma isolada e subjetiva, promovendo uma compreensão da fé baseada na tradição e na autoridade da igreja. Ao invés de cada um criar sua própria versão do cristianismo, a confessionalidade convida os cristãos a se submeterem a um padrão de fé estabelecido pela igreja, guiada pelo Espírito Santo. Essa submissão voluntária à autoridade da igreja na interpretação da Bíblia é essencial para a unidade da fé e a integridade doutrinária.
3. Clareza e Coerência do Ensino
● Base para a Pregação e o Ensino: A confessionalidade fornece uma base sólida para a pregação e o ensino da Palavra de Deus, garantindo a fidelidade ao ensino bíblico e a coerência doutrinária. Pastores e líderes que subscrevem a um credo ou confissão se comprometem a ensinar de acordo com os princípios estabelecidos nesses documentos, evitando distorções ou modismos teológicos.
● Formação de Cristãos Maduros: A confessionalidade contribui para a formação de cristãos maduros, que conhecem e compreendem a fé cristã de forma profunda e sistemática. Credos e confissões, como os Padrões de Westminster, oferecem um guia para o estudo da Bíblia, ajudando o cristão a conectar as diferentes doutrinas e a formar uma visão abrangente da fé. Essa compreensão aprofundada da fé é essencial para resistir às falsas doutrinas, discernir a vontade de Deus e viver uma vida cristã autêntica.
A confessionalidade, quando fundamentada na Escritura e guiada pelo Espírito Santo, é um instrumento essencial para a saúde, crescimento e unidade da Igreja. Ao fornecer um padrão comum de fé, proteger contra a fragmentação doutrinária e promover a clareza e coerência do ensino, a confessionalidade contribui para a edificação de um corpo unido em Cristo, testemunhando a verdade do Evangelho ao mundo.
Benefícios da Leitura dos Padrões de Westminster
A leitura dos Símbolos de Fé de Westminster oferece uma série de benefícios para o cristão, enriquecendo a sua compreensão espiritual, obediência e experiência. Como um conjunto de documentos confessionais, eles oferecem uma rica fonte de instrução e orientação para o cristão.
1. Aperfeiçoamento devocional
● O conhecimento preciso de Deus e da Sua obra, apresentado nos Padrões, aprimora as devoções e leva a melhores respostas de louvor e adoração.
● As doutrinas dos Padrões, por serem as doutrinas da Escritura, nutrem a devoção com a plenitude da verdade.
● A linguagem utilizada nos Padrões é rica em significado espiritual e desperta emoções religiosas, guiando para uma vida devocional profunda.
2. Compreensão bíblica profunda
● Os Padrões de Westminster são declarações fiéis do ensino bíblico, baseadas em princípios e ensinamentos extraídos de toda a Escritura, e não apenas de textos isolados.
● As provas bíblicas presentes nos Padrões convidam à reflexão cuidadosa sobre como os textos se relacionam com o assunto em questão e como devem ser entendidos.
● A leitura dos Padrões ajuda a pensar biblicamente, fornecendo uma estrutura sólida e declarações biblicamente corretas.
3. Clareza e precisão doutrinária
● Os Padrões combatem a superficialidade do cristianismo popular, que se contenta com slogans vagos em vez de uma compreensão precisa das Escrituras.
● As declarações dos Padrões são precisas e equilibradas, destacando a essência do Evangelho e separando-a de qualquer resquício de erro humano.
● A Assembleia de Westminster, por se beneficiar de séculos de reflexão sobre as Escrituras, formulou o ensino bíblico com clareza, precisão e riqueza.
4. Abordagem prática e detalhada
● Os Padrões apresentam um guia para a vida cristã, delineando as crenças que devem fundamentar a conduta prática do cristão.
● A explicação e aplicação detalhada dos Dez Mandamentos, encontrada no Catecismo Maior, por exemplo, oferece um manual prático para a vida diária.
● A abordagem detalhada dos Padrões abrange áreas de controvérsia, oferecendo um tratamento abrangente dos ensinamentos da Bíblia e ajudando a compreender o que a Escritura realmente ensina.
5. Estrutura organizada e sistemática
● Os Padrões organizam as doutrinas bíblicas de forma sistemática, proporcionando clareza e ajuda a organizar as doutrinas bíblicas na mente, aprofundando a compreensão da fé.
● A estrutura lógica dos Catecismos, em particular, fornece um quadro completo de entendimento.
● A leitura dos Padrões ajuda a evitar uma compreensão nebulosa e fragmentada das doutrinas bíblicas.
6. Compartilhamento eficaz da fé
● Os Padrões, apesar de sua profundidade e precisão, são acessíveis a pessoas sem treinamento teológico, tornando a verdade concisa e fácil de compartilhar.
● A leitura dos Padrões facilita a explicação das crenças cristãs e fornece um contexto objetivo para testemunhar a verdade.
● Os Padrões são vitais para a transmissão da verdade para a próxima geração, garantindo que a fé seja passada de forma íntegra e fiel.
Conclusão
Os Padrões de Westminster oferecem uma base sólida para o crescimento espiritual do cristão, aprofundando seu conhecimento das Escrituras, aprimorando suas devoções, fortalecendo sua fé e equipando-o para viver e compartilhar a verdade de forma eficaz.
A subscrição confessional, como um ato de compromisso com a verdade revelada e com a comunidade que a confessa, desempenha um papel fundamental na unidade, na pureza doutrinária e na fidelidade da igreja. No contexto da Igreja Presbiteriana do Brasil, a subscrição aos Padrões de Westminster é um elemento essencial que define sua identidade, sua doutrina e sua missão.
0 comments:
Postar um comentário