08 setembro 2024

A Obra Completa de Cristo: Obediência, Sacrifício e Herança Eterna

Estudo proferido na Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo VIII. De Cristo, o Mediador 


Na seção V do capítulo 8, temos o seguinte:
Seção V. O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo, sacrifício que pelo Eterno Espírito, ele ofereceu a Deus uma só vez, satisfez plenamente à justiça do Pai. e para todos aqueles que o Pai lhe deu adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança perdurável no Reino dos Céus.
Compare com o capítulo XI (Da Justificação) na seção III: “Cristo, por sua obediência e morte, pagou plenamente a dívida de todos aqueles que são assim justificados e fez uma satisfação consumada, real e plenária à justiça de seu Pai no interesse deles”.

A Perfeita Obediência de Cristo

As Escrituras afirmam que a salvação é alcançada somente pela graça, através da fé em Jesus Cristo, e não por obras da lei (Efésios 2:8,9). O Senhor Jesus Cristo, em sua perfeita obediência à lei de Deus e seu sacrifício vicário na cruz, satisfez plenamente a justiça de Deus o Pai. A Confissão de Fé de Westminster (CFW) declara: "O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo, sacrifício que, pelo Eterno Espírito, ofereceu a Deus uma só vez, satisfez plenamente à justiça de seu Pai".

A obediência de Cristo é perfeita em dois sentidos: (1) Ele obedeceu a toda a lei de Deus durante toda a sua vida, nunca pecando (Hebreus 4:15), e (2) Ele cumpriu o papel de Mediador, cumprindo as exigências do pacto da graça (Hebreus 9:15). Romanos 5:19 declara: "Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram constituídos pecadores, assim também, pela obediência de um, muitos serão constituídos justos." Cristo, sendo o segundo Adão, obedeceu onde o primeiro Adão falhou, garantindo assim a justiça para aqueles que estão nele.

O Sacrifício Vicário e a Justiça de Deus

A justiça de Deus exige que o pecado seja punido. Em Sua infinita santidade, Deus não pode ignorar o pecado ou tratá-lo de forma leviana. A Bíblia afirma claramente que "o salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23). É por isso que um sacrifício era necessário para expiar o pecado e satisfazer as justas exigências de Deus.

Cristo, em seu grande amor, se ofereceu como sacrifício perfeito e suficiente pelos pecados do seu povo. Hebreus 9:14 declara: "muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!". Romanos 3:25,26 acrescenta: "Deus o ofereceu como propiciação mediante a fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça, porque, na sua tolerância, havia Deus deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; com o objetivo de, no tempo presente, demonstrar a sua justiça, para ele mesmo ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus".

A Expiação Particular e Seus Benefícios

A doutrina da expiação particular (ou definida) afirma que Cristo morreu com a intenção específica de salvar o seu povo, os eleitos, que lhe foram dados pelo Pai (João 6:37-39). Isso não significa que Cristo não ofereça benefícios a todos, como a graça comum que restringe o pecado no mundo, mas significa que a eficácia salvífica de sua morte é aplicada somente aos eleitos.

A CFW destaca: "E para todos aqueles que o Pai lhe deu adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança perdurável no Reino dos Céus". Efésios 1:11,14 corrobora essa verdade: "Nele, também, fomos feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade [...] o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória".

A eleição, baseada na livre e soberana graça de Deus, precede e fundamenta a obra expiatória de Cristo. Isso significa que a decisão de Deus de salvar Seus eleitos não é uma resposta à obra de Cristo, mas o motivo e a base para a mesma. Em outras palavras, Cristo não morreu para tornar a salvação possível a todos, para que Deus então escolhesse aqueles que creriam. Ao contrário, Deus, em Sua eterna sabedoria e amor, primeiro escolheu um povo para Si, e a expiação é a consequência e a realização dessa escolha (ver Efésios 1:4-5; João 17:2; João 6:37,39; Hebreus 9:15; Hebreus 10:14). Cristo não morreu simplesmente para tornar possível a salvação daqueles por quem ele morreu, senão que ele morreu com o intuito e para o efeito de realmente assegurar a salvação deles. 

Isso demonstra a eficácia da obra de Cristo em virtude da eleição. A morte de Cristo não remove apenas os obstáculos legais para a salvação, mas assegura a redenção completa daqueles por quem Ele morreu. É crucial notar que a doutrina da eleição não anula a necessidade da fé e do arrependimento para a salvação. As Escrituras afirmam que aqueles a quem Deus escolheu serão eficazmente chamados, regenerados e conduzidos à fé em Cristo pelo Espírito Santo (ver João 6:44; Romanos 8:30; 1 Coríntios 1:9; João 3:3-5; Tito 3:5; 1 Pedro 1:3; Efésios 2:8-9; Filipenses 1:29; 2 Tessalonicenses 2:13). A certeza da salvação dos eleitos, portanto, não elimina a responsabilidade humana, mas a garante.

Conclusão

Em suma, a obra redentora de Cristo é a expressão máxima do amor e da justiça de Deus. Através de Sua obediência perfeita e sacrifício vicário, Cristo satisfez plenamente as demandas da lei divina, reconciliando consigo mesmo todos aqueles que o Pai lhe deu. Esta obra eficaz e definitiva garante a salvação completa e a herança eterna para todos os que são chamados segundo o Seu propósito.

Perguntas para fixação

1) Qual a diferença fundamental entre a doutrina da expiação particular, como defendida pela Confissão de Fé de Westminster, e as posições arminianas, luteranas e católicas romanas?

Resposta: A diferença fundamental entre a doutrina da expiação particular, como defendida pela Confissão de Fé de Westminster, e as posições arminianas, luteranas e católicas romanas, reside na compreensão do propósito da expiação, e não necessariamente em seu alcance final.

Expiação Particular (Reformada): A Confissão de Fé de Westminster argumenta que a expiação de Cristo foi planejada e executada com o propósito específico de salvar aqueles que o Pai lhe deu, os eleitos. A morte de Cristo garante a redenção completa e eficaz para esses indivíduos.

Arminianos, Luteranos e Católicos Romanos: Essas tradições, embora concordem que a salvação é somente em Cristo e que nem todos serão salvos, geralmente sustentam que Cristo morreu para tornar a salvação possível para todos. Eles veem a obra de Cristo como a remoção do obstáculo legal da salvação (o pecado), mas não como a garantia da salvação de ninguém em particular.

Em outras palavras, a divergência central está na intenção por trás do sacrifício de Cristo:
  • A visão reformada argumenta que a expiação foi definida e eficaz, destinada a salvar os eleitos.
  • As visões arminiana, luterana e católica romana a consideram como universal em potencial, abrindo a possibilidade de salvação a todos, mas dependente da resposta humana para se tornar eficaz.
Essa diferença fundamental na compreensão da expiação tem implicações significativas para a doutrina da eleição, da graça e da segurança da salvação.

2) Quais são os benefícios específicos que a CFW afirma que Cristo adquiriu para os eleitos por meio de sua obra medianeira?

Resposta: A Confissão de Fé de Westminster (CFW) apresenta uma ênfase notável nos benefícios específicos que Cristo adquiriu para os eleitos por meio de Sua obra medianeira. Esses benefícios podem ser resumidos em duas categorias principais:

1. Reconciliação com Deus: A CFW declara que Cristo adquiriu "a reconciliação" para os eleitos. Isso significa que, através da Sua obra medianeira, a inimizade e a separação entre Deus e o homem pecador foram removidas. O sacrifício de Cristo satisfez a justiça divina e propiciou a ira de Deus, abrindo caminho para o restabelecimento do relacionamento com o Pai. A reconciliação não é apenas uma possibilidade oferecida, mas uma realidade consumada para aqueles que estão em Cristo, concedendo-lhes paz com Deus e acesso à Sua presença.

2. Herança Eterna no Reino dos Céus: Além da reconciliação, a CFW afirma que Cristo também adquiriu "uma herança perdurável no Reino dos Céus" para os eleitos. Essa herança inclui a vida eterna e todas as bênçãos espirituais que a acompanham, como a justificação, a santificação e a glorificação.

A natureza "perdurável" dessa herança destaca sua segurança e irrevogabilidade. A CFW conecta a herança eterna à eleição incondicional, ensinando que aqueles a quem o Pai deu a Cristo receberão infalivelmente a salvação completa.

Efésios 1:11,14, citado pela CFW, descreve essa herança como algo que já pertence aos eleitos em Cristo. O Espírito Santo é dado como um "penhor" dessa herança, garantindo a sua posse futura.

Em resumo, a CFW ensina que a obra medianeira de Cristo garante aos eleitos tanto a reconciliação com Deus quanto a posse segura de uma herança eterna no Seu reino. Esses benefícios são concedidos por meio da obra completa e eficaz de Cristo e recebidos pela fé, não em virtude de qualquer mérito humano. A ênfase nestes benefícios específicos demonstra a graça soberana de Deus e a certeza da salvação para todos aqueles que estão em Cristo.