ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
Capítulo VIII. De Cristo, o Mediador
Na seção II do capítulo 8, temos o seguinte:
Seção II. O Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo sem pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria e da substância dela. As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas - a Divindade e a humanidade - foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, composição ou confusão; essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem.O cerne da fé cristã reside na pessoa de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que transcende os limites da compreensão humana em virtude de sua natureza dual. A doutrina da União Hipostática, pilar fundamental da cristologia, postula a coexistência indissolúvel das naturezas divina e humana em Cristo, sem confusão, divisão ou alteração. Essa concepção teológica, ao longo dos séculos, tem suscitado intensos debates e controvérsias, desafiando a racionalidade humana a apreender o mistério da encarnação e a reconciliar a divindade e a humanidade em uma única pessoa.
A Necessidade da Humanidade de Cristo
A humanidade de Cristo se manifesta em:
- Nascimento de uma mulher: A concepção de Jesus no ventre da virgem Maria pelo poder do Espírito Santo demonstra sua entrada real na história humana como um de nós (Mateus 1:18; Lucas 1:35; João 1:14).
- Corpo físico: As Escrituras descrevem Jesus com um corpo real, sujeito a necessidades e fragilidades humanas como fome, sede, cansaço e dor (João 4:6-8; Lucas 24:41-43; Hebreus 2:17; Marcos 15:34). Ele suou, chorou, sentiu fome e experimentou a morte física na cruz (Lucas 22:44; João 11:35; Marcos 15:37; Atos 2:24).
- Alma humana: Jesus possuía uma alma humana, comprovada por suas emoções, intelecto e desenvolvimento moral. Ele "crescia em sabedoria" (Lucas 2:46-52; Mateus 7:28-29) e experimentou profunda tristeza e angústia (Marcos 14:33).
- Limitações humanas: Apesar de ser Deus, Jesus, em sua natureza humana, se submeteu às limitações do tempo e espaço. Ele não estava presente em todos os lugares ao mesmo tempo, como afirma a doutrina da onipresença divina (Marcos 6:31).
A Realidade da Divindade de Cristo
- Títulos divinos: A Bíblia atribui a Jesus nomes e títulos reservados exclusivamente a Deus, como "Deus" (João 1:1; Romanos 9:5), "Senhor" (Filipenses 2:9-11; Colossenses 1:19), "Verbo" (João 1:1-3) e "Eu Sou" (João 8:58).
- Atributos divinos: A Bíblia aplica a Jesus atributos exclusivos de Deus, como eternidade (Miquéias 5:2; Hebreus 1:8), onisciência (João 2:25; Apocalipse 2:23), onipresença (Mateus 28:20; João 3:13) e onipotência (Filipenses 4:13; Colossenses 1:16).
- Obras divinas: Jesus realizou obras que somente Deus pode realizar, como a criação do universo (João 1:3; Colossenses 1:16), a sustentação de todas as coisas (Hebreus 1:3) e a ressurreição dos mortos (João 5:21,25).
- Adoração divina: A Bíblia ordena e relata a adoração a Jesus Cristo como Deus. Anjos e homens o adoram (Hebreus 1:6; Lucas 24:52), e o batismo é realizado em seu nome, juntamente com o Pai e o Espírito Santo (Mateus 28:19).
Negar a divindade de Cristo é reduzir sua pessoa a um mero homem, invalidando seu sacrifício expiatório e minando o fundamento da fé cristã. Se Jesus não fosse Deus, ele não teria poder para perdoar pecados, vencer a morte e conceder a vida eterna.
A União Incompreensível: Duas Naturezas em Uma Pessoa
- Unidade: As duas naturezas de Cristo coexistem em perfeita harmonia e unidade, sem mistura, confusão, separação ou divisão.
- Distinção: As naturezas divina e humana, embora unidas em Cristo, mantêm suas propriedades distintas. A divindade não se torna humana nem a humanidade divina.
- Integração: As duas naturezas operam em perfeita harmonia na pessoa de Cristo. Atributos e ações podem ser atribuídos a sua pessoa, independentemente de se originarem em sua natureza divina ou humana. Por exemplo, (1) Jesus realizando milagres: Ao curar os enfermos, ressuscitar os mortos e controlar os elementos da natureza, Jesus demonstrava seu poder divino, mas ao mesmo tempo expressava sua compaixão humana. (2) Jesus sofrendo: Ao ser tentado, sentir fome, sede e fadiga, Jesus experienciou as mesmas limitações que nós, demonstrando sua plena humanidade. (3) Jesus perdoando pecados: Ao perdoar os pecados, Jesus exercia seu poder divino de autoridade sobre o pecado, mas ao mesmo tempo demonstrava sua misericórdia e graça.
A Doutrina das duas naturezas de Cristo ao longo da história
Aqui estão alguns exemplos importantes:
- Docetismo: Essa heresia, prevalente nos primeiros séculos da igreja, negava a verdadeira humanidade de Cristo, afirmando que ele apenas parecia ter um corpo físico. A igreja primitiva rejeitou fortemente o docetismo, enfatizando a realidade da encarnação de Cristo e a importância de sua humanidade para a salvação. O apóstolo João, por exemplo, argumentou que negar que Jesus realmente se manifestou na carne era uma marca do anticristo (1 João 4:2,3).
- Arianismo: Surgindo no século IV, o arianismo, liderado por Ário, ensinava que Jesus era um ser criado, embora exaltado, e não eterno e igual a Deus, o Pai. O Concílio de Nicéia, em 325 d.C., foi convocado especificamente para lidar com essa heresia. O concílio rejeitou o arianismo, afirmando que Jesus é "gerado, não criado" e "da mesma substância (homoousios) do Pai". Essa declaração enfatizou a plena divindade de Cristo e sua igualdade com o Pai (ver João 1:1; Hebreus 1:3; Filipenses 2:6; Colossenses 1:15-17; João 14:9).
- Monofisismo: Essa heresia, surgindo no século V, afirmava que Jesus tinha apenas uma natureza, uma mistura divina e humana, em vez de duas naturezas distintas (divina e humana) unidas em uma pessoa. O Concílio de Calcedônia, em 451 d.C., condenou o monofisismo, afirmando que Jesus Cristo é "perfeitamente Deus e perfeitamente homem" em duas naturezas "sem mistura, confusão, separação ou divisão".
- Apolinarismo: Essa heresia negava a plena humanidade de Cristo ao afirmar que ele não possuía uma alma humana, mas que o Logos divino (a Palavra) tomava o lugar de sua alma. A igreja rejeitou essa visão, afirmando que Cristo tinha tanto um corpo quanto uma alma humana, além de sua natureza divina.
- Nestorianismo: Contrário ao monofisismo, o nestorianismo enfatizava demais a distinção entre as naturezas divina e humana de Cristo, sugerindo que ele era duas pessoas distintas. A igreja rejeitou essa visão, afirmando a unidade da pessoa de Cristo, enquanto mantinha a distinção de suas duas naturezas.
Considerações e Conclusões
Em Cristo, encontramos a expressão máxima da graça e da verdade. Ele é o único caminho para o Pai, o único nome dado entre os homens pelo qual podemos ser salvos (ver João 14:6; Atos 4:10-12; Romanos 5:8). Que a contemplação da pessoa de Cristo, Deus encarnado, gere em nós profunda gratidão, adoração e um desejo insaciável de conhecê-lo mais e viver para a sua glória.
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