29 julho 2024

Cristo, o nosso único Mediador

Estudo proferido na Escola Bíblica Dominical na Igreja Presbiteriana do Ibura em Recife/PE. 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo VIII. De Cristo, o Mediador 


Na seção I do capítulo 8, temos o seguinte: 
Seção I. Aprouve a Deus em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do Mundo; e deu-lhe desde toda a eternidade um povo para ser sua semente e para, no tempo devido, ser por ele remido, chamado, justificado, santificado e glorificado. 

O Propósito Eterno de Deus em Cristo 

A Confissão de Fé de Westminster, em seu oitavo capítulo, discorre sobre a pessoa e a obra de Cristo como mediador. A seção I, especificamente, trata do propósito eterno de Deus em escolher e ordenar Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, para a importante função de mediador entre Deus e o homem. Este estudo visa analisar os pontos chave apresentados nesta seção, fundamentando-os com base nas Escrituras Sagradas.

A Escolha e Ordenação de Cristo 

A Confissão inicia afirmando que Deus, em Seu eterno propósito, escolheu e ordenou o Senhor Jesus para ser o mediador entre Deus e os homens. Essa escolha e ordenação são fundamentadas em diversas passagens bíblicas, como Isaías 42:1, que profetiza a vinda do Servo do Senhor, escolhido e amado por Deus para estabelecer o direito na terra. Pedro também afirma que Cristo, como cordeiro sem defeito e sem mácula, foi preordenado antes da fundação do mundo para ser o nosso redentor. (1 Pedro 1:19-20).

Os Três Ofícios de Cristo 

A Confissão prossegue elencando os três ofícios exercidos por Cristo em Sua função mediadora: Profeta, Sacerdote e Rei. Esses ofícios não são separados, mas interligados e refletem diferentes aspectos de sua obra de redenção.

Profeta: Cristo é apresentado como o profeta definitivo, aquele que revela a vontade de Deus de forma completa e perfeita. Em Atos 3:22, Pedro o identifica como o profeta semelhante a Moisés, prometido por Deus em Deuteronômio 18:15-18. Assim como os profetas do Antigo Testamento foram enviados por Deus para revelar Sua vontade, Jesus veio como o profeta supremo, a própria Palavra de Deus encarnada (João 1:1,18). Ele revelou Deus ao mundo através de seus ensinamentos, milagres e, finalmente, através de sua morte e ressurreição (Hebreus 1:1,2). Diferentemente dos profetas anteriores que falavam “assim diz o Senhor”, Jesus falava com Sua própria autoridade: “em verdade, em verdade Eu vos digo”. Jesus continua seu ministério profético hoje através do Espírito Santo, ensinando os crentes através das Escrituras (João 14:26; 16:12-14).

Sacerdote: A função sacerdotal de Cristo é destacada em Hebreus 5:5-6, onde é apresentado como o Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. No Antigo Testamento, os sacerdotes faziam intercessão a Deus pelo povo e ofereciam sacrifícios pelos pecados. O sacerdócio de Cristo é superior ao levítico por ser eterno, perfeito e ter um sacrifício superior (Hebreus 8:6). Jesus se tornou o sumo sacerdote perfeito, oferecendo-se como o sacrifício perfeito pelos pecados do seu povo. Sua morte na cruz expiou a culpa do pecado e removeu a barreira entre Deus e o homem (Hebreus 7:20-28). Ele continua a interceder por nós no céu, aplicando os benefícios de seu sacrifício (Romanos 8:34; Hebreus 7:25).

Rei: O reinado de Cristo é eterno e absoluto. Salmos 2:6 declara que Deus estabeleceu Seu Rei sobre Sião, e Lucas 1:33 profetiza que o Seu reinado não terá fim. Jesus é o Rei prometido que reina para sempre. Seu reino não é deste mundo, mas é um reino espiritual que governa os corações e vidas de seus seguidores. Cristo reina agora na vida dos crentes e na Igreja, subjugando seus inimigos e estendendo seu reino (Filipenses 2:6-11). O reinado de Cristo exige submissão e obediência da Igreja (Colossenses 1:18). Ele exerce seu reinado chamando pessoas para si, dando-lhes o Espírito Santo, protegendo-as do mal e conduzindo-as à santidade. Um dia, ele retornará para estabelecer seu reino visivelmente na terra. O reinado de Cristo será consumado em sua segunda vinda, quando estabelecerá seu reino eterno (Daniel 2:44; Isaías 9:7).

Esses ofícios, além de essenciais para a obra mediadora de Cristo, revelam a plenitude da Sua pessoa e a suficiência da Sua obra. É importante entender que os três ofícios de Cristo estão interligados. Como profeta, ele revela o caminho da salvação. Como sacerdote, ele torna possível essa salvação através de seu sacrifício. E como rei, ele governa os corações daqueles que são salvos. Negligenciar um desses ofícios é distorcer a pessoa e a obra de Cristo.
 
Cristo: Cabeça e Salvador da Igreja 

A Confissão afirma que Cristo, como Mediador, é a Cabeça e Salvador da Igreja. Efésios 5:23 o apresenta como cabeça da igreja, que é o Seu corpo. O título "Cabeça" destaca a autoridade de Cristo sobre a Igreja. Assim como a cabeça direciona o corpo, Cristo governa e guia a Igreja. Efésios 5:23 reforça essa ideia, comparando a relação de Cristo e a Igreja à de um marido e sua esposa, sendo Cristo a cabeça da Igreja, que é o Seu corpo (ver Efésios 1:22; 4:15; Colossenses 1:18; 2:19). A função de "Salvador" aponta para a obra redentora de Cristo em favor da Igreja. Ele a salva do pecado e da condenação através de seu sacrifício na cruz. Ele redime, perdoa e reconcilia seu povo com Deus (Romanos 5:8; 2 Coríntios 5:19; Efésios 1:7; Hebreus 9:28).

Cristo: Herdeiro de Todas as Coisas e Juiz do Mundo 

Além dos ofícios mencionados, a seção I também destaca que Cristo é o herdeiro de todas as coisas e o juiz do mundo. Hebreus 1:2 afirma que Deus constituiu Cristo herdeiro de todas as coisas. Isso significa que toda a criação está sob o domínio de Cristo. E Atos 17:31 declara que Deus estabeleceu um dia para julgar o mundo com justiça, por meio de um homem que Ele designou, Jesus Cristo. Ele é o juiz designado por Deus para julgar o mundo com justiça.

O Povo de Cristo 

A Confissão de Fé de Westminster finaliza a seção I mencionando o povo de Cristo, escolhido desde a eternidade para ser Sua semente. João 17:6 confirma essa eleição, com Jesus orando ao Pai por aqueles que lhe foram dados, afirmando que são Seus. Essa doutrina é central na teologia reformada, enfatizando a iniciativa de Deus na salvação. Deus, em Sua soberania, escolheu um povo para Si antes da fundação do mundo (ver Romanos 9:11-13; Efésios 1:4-5; 2 Timóteo 1:9; João 6:37; 1 Pedro 1:1-2).

Conclusão 

A seção I do capítulo 8 da Confissão de Fé de Westminster apresenta um resumo conciso, porém rico, da obra de Cristo como mediador. Através dos ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei, Cristo cumpre o propósito eterno de Deus de redimir um povo para Si, reconciliando-o consigo mesmo e estabelecendo o Seu Reino eterno. É fundamental que a Igreja de Cristo mantenha a centralidade da pessoa e da obra de Cristo em sua vida e ministério. A ênfase na divindade e humanidade de Cristo é crucial para a compreensão da Sua obra como Mediador. Ele é divino para que Seu sacrifício tenha valor infinito e humano para que possa representar a humanidade.

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