29 julho 2024

Cristo, o nosso único Mediador

Estudo proferido na Escola Bíblica Dominical na Igreja Presbiteriana do Ibura em Recife/PE. 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo VIII. De Cristo, o Mediador 


Na seção I do capítulo 8, temos o seguinte: 
Seção I. Aprouve a Deus em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do Mundo; e deu-lhe desde toda a eternidade um povo para ser sua semente e para, no tempo devido, ser por ele remido, chamado, justificado, santificado e glorificado. 

O Propósito Eterno de Deus em Cristo 

A Confissão de Fé de Westminster, em seu oitavo capítulo, discorre sobre a pessoa e a obra de Cristo como mediador. A seção I, especificamente, trata do propósito eterno de Deus em escolher e ordenar Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, para a importante função de mediador entre Deus e o homem. Este estudo visa analisar os pontos chave apresentados nesta seção, fundamentando-os com base nas Escrituras Sagradas.

A Escolha e Ordenação de Cristo 

A Confissão inicia afirmando que Deus, em Seu eterno propósito, escolheu e ordenou o Senhor Jesus para ser o mediador entre Deus e os homens. Essa escolha e ordenação são fundamentadas em diversas passagens bíblicas, como Isaías 42:1, que profetiza a vinda do Servo do Senhor, escolhido e amado por Deus para estabelecer o direito na terra. Pedro também afirma que Cristo, como cordeiro sem defeito e sem mácula, foi preordenado antes da fundação do mundo para ser o nosso redentor. (1 Pedro 1:19-20).

Os Três Ofícios de Cristo 

A Confissão prossegue elencando os três ofícios exercidos por Cristo em Sua função mediadora: Profeta, Sacerdote e Rei. Esses ofícios não são separados, mas interligados e refletem diferentes aspectos de sua obra de redenção.

Profeta: Cristo é apresentado como o profeta definitivo, aquele que revela a vontade de Deus de forma completa e perfeita. Em Atos 3:22, Pedro o identifica como o profeta semelhante a Moisés, prometido por Deus em Deuteronômio 18:15-18. Assim como os profetas do Antigo Testamento foram enviados por Deus para revelar Sua vontade, Jesus veio como o profeta supremo, a própria Palavra de Deus encarnada (João 1:1,18). Ele revelou Deus ao mundo através de seus ensinamentos, milagres e, finalmente, através de sua morte e ressurreição (Hebreus 1:1,2). Diferentemente dos profetas anteriores que falavam “assim diz o Senhor”, Jesus falava com Sua própria autoridade: “em verdade, em verdade Eu vos digo”. Jesus continua seu ministério profético hoje através do Espírito Santo, ensinando os crentes através das Escrituras (João 14:26; 16:12-14).

Sacerdote: A função sacerdotal de Cristo é destacada em Hebreus 5:5-6, onde é apresentado como o Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. No Antigo Testamento, os sacerdotes faziam intercessão a Deus pelo povo e ofereciam sacrifícios pelos pecados. O sacerdócio de Cristo é superior ao levítico por ser eterno, perfeito e ter um sacrifício superior (Hebreus 8:6). Jesus se tornou o sumo sacerdote perfeito, oferecendo-se como o sacrifício perfeito pelos pecados do seu povo. Sua morte na cruz expiou a culpa do pecado e removeu a barreira entre Deus e o homem (Hebreus 7:20-28). Ele continua a interceder por nós no céu, aplicando os benefícios de seu sacrifício (Romanos 8:34; Hebreus 7:25).

Rei: O reinado de Cristo é eterno e absoluto. Salmos 2:6 declara que Deus estabeleceu Seu Rei sobre Sião, e Lucas 1:33 profetiza que o Seu reinado não terá fim. Jesus é o Rei prometido que reina para sempre. Seu reino não é deste mundo, mas é um reino espiritual que governa os corações e vidas de seus seguidores. Cristo reina agora na vida dos crentes e na Igreja, subjugando seus inimigos e estendendo seu reino (Filipenses 2:6-11). O reinado de Cristo exige submissão e obediência da Igreja (Colossenses 1:18). Ele exerce seu reinado chamando pessoas para si, dando-lhes o Espírito Santo, protegendo-as do mal e conduzindo-as à santidade. Um dia, ele retornará para estabelecer seu reino visivelmente na terra. O reinado de Cristo será consumado em sua segunda vinda, quando estabelecerá seu reino eterno (Daniel 2:44; Isaías 9:7).

Esses ofícios, além de essenciais para a obra mediadora de Cristo, revelam a plenitude da Sua pessoa e a suficiência da Sua obra. É importante entender que os três ofícios de Cristo estão interligados. Como profeta, ele revela o caminho da salvação. Como sacerdote, ele torna possível essa salvação através de seu sacrifício. E como rei, ele governa os corações daqueles que são salvos. Negligenciar um desses ofícios é distorcer a pessoa e a obra de Cristo.
 
Cristo: Cabeça e Salvador da Igreja 

A Confissão afirma que Cristo, como Mediador, é a Cabeça e Salvador da Igreja. Efésios 5:23 o apresenta como cabeça da igreja, que é o Seu corpo. O título "Cabeça" destaca a autoridade de Cristo sobre a Igreja. Assim como a cabeça direciona o corpo, Cristo governa e guia a Igreja. Efésios 5:23 reforça essa ideia, comparando a relação de Cristo e a Igreja à de um marido e sua esposa, sendo Cristo a cabeça da Igreja, que é o Seu corpo (ver Efésios 1:22; 4:15; Colossenses 1:18; 2:19). A função de "Salvador" aponta para a obra redentora de Cristo em favor da Igreja. Ele a salva do pecado e da condenação através de seu sacrifício na cruz. Ele redime, perdoa e reconcilia seu povo com Deus (Romanos 5:8; 2 Coríntios 5:19; Efésios 1:7; Hebreus 9:28).

Cristo: Herdeiro de Todas as Coisas e Juiz do Mundo 

Além dos ofícios mencionados, a seção I também destaca que Cristo é o herdeiro de todas as coisas e o juiz do mundo. Hebreus 1:2 afirma que Deus constituiu Cristo herdeiro de todas as coisas. Isso significa que toda a criação está sob o domínio de Cristo. E Atos 17:31 declara que Deus estabeleceu um dia para julgar o mundo com justiça, por meio de um homem que Ele designou, Jesus Cristo. Ele é o juiz designado por Deus para julgar o mundo com justiça.

O Povo de Cristo 

A Confissão de Fé de Westminster finaliza a seção I mencionando o povo de Cristo, escolhido desde a eternidade para ser Sua semente. João 17:6 confirma essa eleição, com Jesus orando ao Pai por aqueles que lhe foram dados, afirmando que são Seus. Essa doutrina é central na teologia reformada, enfatizando a iniciativa de Deus na salvação. Deus, em Sua soberania, escolheu um povo para Si antes da fundação do mundo (ver Romanos 9:11-13; Efésios 1:4-5; 2 Timóteo 1:9; João 6:37; 1 Pedro 1:1-2).

Conclusão 

A seção I do capítulo 8 da Confissão de Fé de Westminster apresenta um resumo conciso, porém rico, da obra de Cristo como mediador. Através dos ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei, Cristo cumpre o propósito eterno de Deus de redimir um povo para Si, reconciliando-o consigo mesmo e estabelecendo o Seu Reino eterno. É fundamental que a Igreja de Cristo mantenha a centralidade da pessoa e da obra de Cristo em sua vida e ministério. A ênfase na divindade e humanidade de Cristo é crucial para a compreensão da Sua obra como Mediador. Ele é divino para que Seu sacrifício tenha valor infinito e humano para que possa representar a humanidade.

23 julho 2024

A Nova Aliança em Jesus Cristo

O estudo abaixo foi realizado na Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE, na Escola Bíblica Dominical. 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo VII. O Pacto de Deus com o Homem 

Na seção VI do capítulo 7, temos o seguinte:
Seção VI. Sob o Evangelho, quando foi manifestado Cristo, a substância, as ordenanças pelas quais este pacto é dispensado são a pregação da palavra e a administração dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor; por estas ordenanças, posto que poucas em número e administradas com maior simplicidade e menor glória externa, o pacto é manifestado com maior plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas as nações, aos judeus bem como aos gentios. É chamado o Novo Testamento. Não há, pois, dois pactos de graça diferentes em substância mas um e o mesmo sob várias dispensações.

A Confissão de Fé de Westminster, em sua seção VI do capítulo 7, afirma que há apenas um pacto de graça, embora tenha sido administrado de maneiras diferentes ao longo da história (Gálatas 3:14-16; Atos 15:11; Romanos 3:21-23,30; Hebreus 8). Esse único pacto se manifesta em duas grandes eras: a do Antigo Testamento e a do Novo Testamento. No Antigo Testamento, Deus estabeleceu seu pacto com o povo de Israel, utilizando tipos e sombras para prefigurar a redenção completa que viria por meio de Jesus Cristo. As ordenanças daquela época, como a circuncisão e a Páscoa, serviam como sinais e selos desse pacto, apontando para Cristo. O apóstolo Paulo, em Colossenses 2:17, afirma que essas ordenanças eram "sombra das coisas que haviam de vir", sendo Cristo a substância, a realidade que elas anunciavam.

Com a vinda de Jesus Cristo, a substância do pacto se manifesta em sua plenitude. Ele é o cumprimento de todas as promessas e profecias do Antigo Testamento (ver Colossenses 2:17 em comparação com Hebreus 8:5). Em Cristo, o pacto de amizade entre Deus e o homem é estabelecido de forma eterna e inquebrável. A Nova Aliança, portanto, não é um pacto totalmente novo, mas sim uma nova revelação do pacto eterno de Deus. É importante notar que a mudança de Moisés para Cristo como mediador não representa uma mudança na essência do pacto, pois Moisés já prefigurava Cristo em seu papel de mediador. Moisés, como um tipo de Cristo, prenunciava o papel de Cristo como mediador. Hebreus 3:5 se refere a Moisés como "testemunho das coisas que haviam de ser anunciadas" e Deuteronômio 18:15 profetiza um profeta "semelhante a mim [Moisés]", referindo-se a Cristo.

A Nova Aliança traz consigo mudanças significativas na administração do pacto, mas não em sua essência. A lei, antes escrita em tábuas de pedra, agora é escrita nos corações dos crentes pelo Espírito Santo (Hebreus 8:10). As ordenanças também são simplificadas: a pregação da Palavra, o batismo e a Ceia do Senhor se tornam os meios pelos quais o pacto é administrado (Mateus 28:19,20; 1 Coríntios 11:23-25). Essas novas ordenanças, embora mais simples em sua forma, são marcadas por maior plenitude, evidência e eficácia espiritual, ou seja, a simplicidade das novas ordenanças não significa uma perda de significado ou diminuição dela, mas sim um foco maior na realidade espiritual que elas representam (ver Hebreus 12:22-28; Jeremias 31:33,34). 

Ao lermos Hebreus 8:1,2,5-7,13 notamos que o autor chama a "antiga aliança" de "antiquado e envelhecido" e conclui que está prestes a desaparecer, justamente porque aquilo que a antiga aliança apontava, já era realidade, Jesus Cristo. Uma vez que Cristo veio para cumprir a lei, aquelas antigas práticas da antiga aliança deixaram de fazer sentido. A conclusão do autor da carta é óbvia: "Quando ele diz "nova aliança", torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer". E de fato, desapareceu, e não há mais nenhuma lógica de crer que um dia voltarão as antigas práticas de uma lei "envelhecida e antiquado"!

A Nova Aliança também abrange todas as nações, judeus e gentios, cumprindo a promessa de Deus a Abraão de que em sua semente todas as nações seriam abençoadas. Gálatas 3:7 afirma que "os da fé é que são filhos de Abraão", indicando que a aliança está disponível a todos que creem, independentemente da descendência étnica. A promessa a Abraão de que "em sua semente todas as nações seriam abençoadas" encontra seu cumprimento em Jesus Cristo, que quebra as barreiras entre judeus e gentios, tornando-se o único mediador entre Deus e a humanidade (ver Mateus 28:19; Efésios 2:15-19).

A unidade do pacto demonstra a continuidade do povo de Deus ao longo da história. O verdadeiro Israel sempre foi o povo espiritual de Deus, composto por aqueles que são unidos a Cristo pela fé, independentemente de sua descendência física. Os gentios crentes, portanto, são enxertados na promessa feita a Abraão e se tornam co-herdeiros com os judeus que creem. Romanos 4:11-16 e Gálatas 3:7 deixam claro que Abraão é pai de todos os que creem, judeus ou gentios.

A plena consumação do pacto se dará quando Deus estabelecer seu reino eterno, e o tabernáculo de Deus estará com os homens. Apocalipse 21:3 descreve esse momento glorioso, quando Deus habitará com seu povo redimido de forma plena e definitiva. A Ceia do Senhor, celebrada na igreja, serve como um antegosto dessa comunhão eterna com Deus, simbolizando o banquete que nos aguarda em Sua presença. Apocalipse 3:20 ilustra o convite de Cristo para a igreja, onde Ele diz: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo". Este versículo demonstra a comunhão íntima que Cristo deseja ter com Seu povo, simbolizada pela Ceia do Senhor. Através da Ceia do Senhor, o povo de Deus celebra o pacto de amizade com Ele, alimentado pelo corpo e pelo sangue de Cristo (conferir Apocalipse 19:9 e Lucas 22:16 referindo-se à Páscoa, precursora da Ceia do Senhor).


16 julho 2024

O 'Mundo' de João 3:16 Não Significa Todos os Homens sem Exceção

Rev. David J. Engelsma 

Agora é comum entre pessoas reformadas que, quando se confessa a eleição de Deus de alguns para a salvação, o amor especial de Deus pelos eleitos e o desejo exclusivo de Deus de salvar os eleitos, a confissão é imediatamente contestada por um apelo a João 3:16: 

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".

Na verdade, essa é quase a regra. Aquele que assim apela a João 3:16 tem a intenção de afirmar que Deus ama todos os homens, sem exceção, e que Deus deseja salvar todos os homens, sem exceção. O pressuposto básico subjacente a este apelo a João 3:16, como um argumento contra a eleição, é que a palavra "mundo" em João 3:16 significa "todos os homens, sem exceção".

Nós anunciamos, declaramos e proclamamos aqui que essa suposição é falsa. É antibíblica. E ela leva a um ensino que fundamentalmente se desvia do Evangelho. A palavra "mundo", em João 3:16 não significa "todos os homens, sem exceção".

Rogamos a nossos irmãos e irmãs reformados que insistem em conceber "mundo" em João 3:16 como "todos os homens, sem exceção", e utilizam este texto contra a confissão do amor particular de Deus pelo eleito, a enfrentarem a posição doutrinária que têm tomado. Esta é a posição deles:

- Deus ama todos os homens, sem exceção, com um amor que dá o seu Filho unigênito para a salvação, isto é, com um amor (salvífico) que deseja que eles sejam salvos do pecado e tenham a vida eterna no céu.

- Deus deu o seu Filho unigênito por todos os homens, sem exceção, ou seja, Jesus morreu por todos os homens, sem exceção.

- No entanto, muitas pessoas que Deus ama, que Deus deseja salvar, e por quem Jesus morreu, perecem no inferno, não salvas.

- Portanto: 1 - muitas pessoas estão separadas do amor de Deus; 2 - o desejo de Deus de salvar é frustrado no caso de muitas pessoas; 3 - a morte de Jesus não conseguiu salvar muitos por quem o Filho de Deus, de fato, morreu.

- A razão para este triste estado das coisas é que tais pessoas se recusaram a crer em Jesus, embora eles fossem capazes de fazê-lo em virtude de seu livre arbítrio.

- Por outro lado, a razão pela qual os outros são salvos não é porque Deus os amou, desejou a sua salvação, e deu Seu Filho para morrer por eles (pois Ele também amou os que perecem, desejou a salvação deles, e deu Seu Filho por eles), mas que, por meio de seu livre arbítrio, escolheram crer.

- Concluindo, a condenação dos ímpios é a derrota e decepção de Deus, ao passo que a salvação dos crentes é a própria obra deles.

Quando homens defensores de "todos os homens, sem exceção" citam João 3:16, esta é a forma como eles estão lendo: 

"Porque Deus amou todos os homens, sem exceção, que deu o seu Filho unigênito para morrer por todos os homens, sem exceção, com o desejo de que todos os homens, sem exceção, sejam salvos, para que todo aquele que crê, por seu livre arbítrio, não pereça, mas tenha a vida eterna".

Sempre que alguém desafia a confissão do amor particular e exclusivo de Deus pelos Seus eleitos, citando João 3:16, devemos concluir com pesar que ele defende a posição doutrinária estabelecida acima e deseja confessá-la publicamente, a fim de, assim, derrubar a doutrina reformada da predestinação, expiação limitada, depravação total, graça eficaz e a preservação dos santos (o que é apenas uma forma elaborada de dizer, a salvação pela graça somente - o Evangelho).

A palavra mundo no Evangelho de João não significa "todos os homens, sem exceção". Comprove:

- João 1:29: "Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!". Por acaso Cristo por meio de Sua morte tirou o pecado de todos os homens, sem exceção? Se ele tirou, todos os homens, sem exceção, serão salvos.

- João 6:33: "Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo". Por acaso Jesus dá vida (não, inutilmente oferece vida, mas eficazmente dá vida) a todos os homens, sem exceção? Se ele dá, todos os homens, sem exceção, têm a vida eterna.

- João 17:9: "Eu [Jesus] não estou rogando pelo mundo". Jesus se recusa a orar por todos os homens, sem exceção?

Este último texto aponta que a palavra "mundo" no Evangelho de João, nem sempre têm o mesmo significado. Em João 3:16, o mundo é amado por Deus, com um amor que dá o Filho de Deus por sua causa; em João 17:9, o Filho de Deus se recusa a rogar pelo mundo. Os santos não devem chegar a um entendimento do "mundo" de João 3:16 por meio de uma suposição rápida, mas pela interpretação cuidadosa da passagem à luz do resto da Escritura.

Qual é então a verdade sobre o mundo de João 3:16?

Amado por Deus com um amor divino, todo-poderoso, eficaz, fiel e eterno, o mundo é salvo. Todo ele! Todos eles!

Redimidos pela preciosa, digna, poderosa e eficaz morte do Filho de Deus, o mundo é salvo. Todo ele! Todos eles!

A salvação de todas as pessoas incluídas no mundo de João 3:16 é devido unicamente ao amor eficaz de Deus e a morte redentora de Cristo por eles; enquanto que aqueles que perecem nunca foram amados por Deus, nem redimidos por Cristo, ou seja, eles não fazem parte do "mundo" de João 3:16.

O "mundo" de João 3:16 (No grego "cosmos", de onde vem a nossa palavra em português "cosmos", refere-se ao nosso "ordenado, harmonioso e sistemática universo") é a criação feita por Deus no princípio (agora desordenado por causa do pecado) juntamente com os eleitos de todas as nações (agora por natureza filhos da ira tanto quanto os outros) como sendo o cerne do mesmo. Com respeito às pessoas dele, o mundo de João 3:16 é a nova humanidade em Jesus Cristo, o último Adão (Conferir 1Co 15:45). João chama esta nova raça humana "o mundo", a fim de mostrar e enfatizar, não só o povo judeu, mas todas as nações e povos (Conferir Ap 7:9). As pessoas que compõem o mundo de João 3:16 são todos aqueles, e só aqueles, que se tornarão crentes - aquele que crê - e é o eleito que crê (Conferir At 13:48).

Esta explicação de João 3:16 não é uma nova interpretação estranha sonhada por hiper-calvinistas contemporâneos, mas a explicação que foi dada no passado pelos defensores da fé que chamamos reformada, ou seja, por aqueles que confessavam a graça soberana de Deus na salvação dos pecadores.

Esta foi a explicação dada por Francis Turretin [Frances Turretin (1623-1687) um teólogo reformado de Genebra]:

"O amor tratado em João 3:16 [...] não pode ser universal para todos e para qualquer um, mas especial para alguns [...] porque a finalidade do amor de Deus é a salvação daqueles a quem Ele busca com tal amor [...] Portanto, se Deus enviou Cristo para esse fim, que por meio d'Ele o mundo fosse salvo, Ele necessariamente ou falhou em Seu objetivo, ou o mundo precisa ser salvo, de fato. Mas é certo que não é o mundo inteiro, mas somente aqueles escolhidos do mundo que são salvos; logo, a menção deste amor é devidamente aos escolhidos [...]. 

Por que então o 'mundo' não deveria ser entendido aqui, não como universal para indivíduos, mas indefinidamente para qualquer um, tanto judeus quanto gentios, sem distinção de nação, língua ou posição social, para que se possa dizer que Ele amou a raça humana; enquanto que Ele não desejava destruí-la completamente, mas decretou salvar certas pessoas, não somente de um povo como anteriormente, mas de todos os povos indiscriminadamente, embora os efeitos desse amor não seja estendido a cada indivíduo, mas apenas para algumas, ou seja, os escolhidos do mundo?"

Sobre a palavra "mundo" na Escritura, Abraham Kuyper escreveu: 

"Porque, se há alguma coisa que é certa a partir de uma leitura um pouco mais atenta da Sagrada Escritura, e que pode ser defendida como firmemente estabelecida, é, realmente, o fato irrefutável, que a palavra 'mundo' na Sagrada Escritura apenas significa 'todos os homens' em raríssimas exceções, e quase sempre significa algo completamente diferente".

Em uma explanação, mais específica, sobre o "mundo" de João 3:16, Kuyper chegou a dizer que a menção é ao "próprio cerne" da criação, o povo eleito de Deus, "o qual Jesus arrebata de Satanás": 

"[...] a partir deste cerne, desta congregação, deste povo, um 'novo mundo', uma 'nova terra e novo céu', um dia surgirão, por uma obra maravilhosa de Deus. A terra não serve apenas para permitir com que os eleitos sejam salvos, para em seguida, desaparecer. Não, os eleitos são homens; esses homens formam um todo, um acervo, um organismo; esse organismo está fundamentado na criação; e porque esta criação é agora o reflexo da sabedoria de Deus e da obra de suas mãos, a administração dela por Deus não pode se tonar em nada, mas no Grande Dia a vontade de Deus para esta criação será perfeitamente realizada".

Essencialmente, esta é a mesma interpretação de Arthur W. Pink [A Soberania de Deus - A. W. Pink]:

"Passando agora para João 3:16, deveria ser evidente, a partir das passagens que acabamos de citar, que este versículo não vai suportar a construção que é costumeiramente colocada sobre ele. 'Porque Deus amou o mundo de tal maneira'. Muitos supõem que isto significa, toda a raça humana. Mas 'toda a raça humana' inclui toda a humanidade, desde Adão até o fim da história da Terra: alcança o passado bem como o futuro! Considere, então, a história da humanidade antes de Cristo nascer. Incontáveis milhões de pessoas viveram e morreram antes do Salvador ter vindo à terra, viveram aqui 'não tendo esperança e sem Deus no mundo', e, portanto, foram para uma eternidade de aflição. Se Deus os 'amou', onde se encontra uma prova, a menor prova que seja, disso?".

"A Escritura declara: 'No passado [a partir da torre de Babel até depois do Pentecostes] Ele [Deus] permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos' - At 14:16. A Escritura declara que 'Visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam'. - Rm 1:28. Para Israel Deus disse: 'Escolhi apenas vocês de todas as famílias da terra' - Am 3:2. Levando em conta estas claras passagens, quem será tão tolo a ponto de insistir que Deus no passado amou toda a humanidade?! O mesmo se aplica com igual força para o futuro [...] Mas o objetor volta para João 3:16 e diz: 'Mundo significa mundo'. É verdade, mas nós mostramos que 'o mundo' não significa toda a família humana. O fato é que 'o mundo' é usado de maneira geral [...]".

"Agora, a primeira coisa a se observar em conexão com João 3:16 é que nosso Senhor estava falando ali com Nicodemos, um homem que acreditava que as misericórdias de Deus eram restritas à sua própria nação. Cristo ali anunciou que o amor de Deus em dar o Seu filho tinha um objeto maior em vista, que fluía além do limite da Palestina, chegando aos 'confins da terra'. Em outras palavras, este foi o anúncio de Cristo que Deus tinha um propósito de graça para com os gentios bem como para com os judeus. Portanto, 'Porque Deus amou o mundo de tal maneira', significa que o amor de Deus é internacional em seu escopo".

"Mas isso significa que Deus ama cada indivíduo entre os gentios? Não necessariamente, pois, como vimos, o termo 'mundo' é geral e não específico, relativo e não absoluto [...] o 'mundo' em João 3:16, em última análise, refere-se necessariamente ao mundo do povo de Deus. Somos obrigados a dizê-lo, pois não há nenhuma outra solução alternativa. Não pode significar toda a raça humana, pois metade da raça já estava no inferno quando Cristo veio à Terra. É injusto insistir que significa cada ser humano que está vivendo agora, pois todas as outras passagens no Novo Testamento, onde o amor de Deus é mencionado, é limitado a Seu próprio povo - pesquise e veja!".

"Os objetos do amor de Deus em João 3:16 são, precisamente, os mesmos objetos do amor de Cristo em João 13:1: 'Um pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim'. Podemos admitir que a nossa interpretação de João 3:16 não é um romance inventado por nós, mas um que nos foi dado, quase uniformemente, pelos reformadores e puritanos, e muitos outros depois deles".

Nós apenas podemos estranhar que os reformados tenham tão rapidamente se afastado da verdade do soberano, particular e eletivo amor de Deus em Jesus Cristo; verdade a qual não foi só confessada "pelos reformadores e puritanos" antes deles, mas também tem sido confessada pela própria igreja reformada em seu credo, os Cânones de Dort.

Quem os enfeitiçou?

Quanto a nós, estamos determinados, por causa do amor à verdade, a se opor à mentira sobre o amor de Deus em Jesus Cristo por todos os homens, sem exceção; a tentar resgatar aqueles que tem sido levados cativos por esta doutrina; e a pregar e testemunhar, perto e longe, a tempo e fora de tempo, o amor de Deus pelo mundo que salva o mundo, a morte do Filho de Deus que redimiu o mundo, o propósito de Deus para a salvação de pecadores a qual está consumada, e a salvação dos pecadores escravizados por meio do soberano poder da graça de Deus somente, para o conforto de todo cristão e para a glória de Deus.


10 julho 2024

Livre-Arbítrio e Livre Agência

Por Augustus Nicodemus 

Antes da Queda 

Adão e Eva, criados sem pecado, possuíam verdadeiro livre-arbítrio. Eles tinham a capacidade de escolher entre obedecer ou desobedecer a Deus sem a inclinação interna para o pecado. Em Gênesis 2:16-17, Deus lhes deu um mandamento claro e uma escolha: "E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: 'De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás'". 

Perda do Livre-Arbítrio Após a Queda 

Após a queda, a natureza humana foi corrompida pelo pecado, e o livre-arbítrio foi perdido. O homem não tem mais a capacidade de escolher o bem sem a graça divina. Paulo escreve em Romanos 3:10-12: "Como está escrito: 'Não há justo, nem um sequer, não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um só'". 

Livre Agência 

Mesmo após a queda, o homem possui livre agência, que é a capacidade de agir de acordo com seus desejos e natureza. No entanto, sem a regeneração pelo Espírito Santo, esses desejos são inclinados ao pecado. Jesus disse em João 8:34: "Respondeu-lhes Jesus: 'Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado'". 

Regeneração pelo Espírito Santo 

Uma pessoa regenerada pelo Espírito Santo tem novos desejos e inclinações. O Espírito Santo habita nela e a capacita a desejar e fazer o bem conforme a vontade de Deus. Paulo escreve em Gálatas 5:16-17: "Digo, porém: Andai no Espírito, e jamais satisfareis a concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer". 

Moralidade Natural sem Conhecimento de Deus 

Pessoas que não conhecem a Deus ainda podem agir moralmente devido à lei moral escrita em seus corações. Romanos 2:14-15 explica: "Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, ora acusando-os, ora defendendo-os".

A moralidade natural pode ser influenciada pela cultura, educação e consciência. Um indivíduo pode agir moralmente devido à influência da sociedade, educação moral, ou por um senso interno de certo e errado, mesmo que não reconheça Deus como a fonte última da moralidade. 

Diversidade de Comportamentos 

É possível observar comportamentos variados tanto entre crentes como entre não crentes. Entre aqueles que conhecem a Deus, alguns ainda lutam contra o pecado devido à carne. Paulo reconhece essa luta em Gálatas 5.16-23. 

Exemplo de Dois Crentes 

Mesmo entre crentes, há diferentes níveis de maturidade espiritual e santificação. Um crente pode lutar com pecados como a fofoca, enquanto outro pode ser um exemplo de piedade e evangelismo. Isso reflete o processo contínuo de santificação, onde os crentes são progressivamente conformados à imagem de Cristo (2 Coríntios 3:18). 

Terminando, a moralidade e o comportamento humano são complexos e influenciados por uma variedade de fatores, incluindo a regeneração pelo Espírito Santo, a lei moral escrita no coração, e as influências culturais e educacionais. Mesmo aqueles que não conhecem a Deus podem agir moralmente devido à consciência e à lei natural, enquanto os crentes são capacitados pelo Espírito Santo a viver de acordo com os mandamentos de Deus. 


06 julho 2024

A Igreja de Cristo - Volume 1 e 2 - Um tratado sobre a natureza, poderes, ordenanças, disciplina e governo da igreja cristã

A Igreja de Cristo - Volume 1 e 2 - Um tratado sobre a natureza, poderes, ordenanças, disciplina e governo da igreja cristãA Igreja de Cristo - Volume 1 e 2 - Um tratado sobre a natureza, poderes, ordenanças, disciplina e governo da igreja cristã

A Igreja de Cristo - Volume 1 e 2 - Um tratado sobre a natureza, poderes, ordenanças, disciplina e governo da igreja cristã 

A publicação desta obra sobre doutrina da Igreja, do Rev. James Bannerman (1807-1868), deve ser de grande utilidade para a Igreja Presbiteriana do Brasil. James Bannerman era filho do Rev. James Patrick Bannerman, ministro em Cargill, Perthshire, Escócia. Ele nasceu em 9 de abril de 1807, estudou na Universidade de Edimburgo e foi ordenado ministro da Igreja da Escócia em 1833. Assumiu um papel de liderança na divisão da Igreja da Escócia que gerou a Igreja Livre da Escócia, em 1843. Em 1849 ele foi nomeado professor de Apologética e Teologia Pastoral no New College, em Edimburgo, uma posição que ocupou até sua morte, em 27 de março de 1868. Entre suas publicações temos: Inspiration: the Infallible Truth and Divine Authority of the Holy Scriptures [Inspiração: a verdade infalível e divina autoridade das Escrituras] (1865), e sua obra sobre a Igreja, que foi editada por seu filho e publicada após sua morte, em 1868.

Como é frequente nesses casos, conflitos na Igreja produzem maior clareza sobre determinados tópicos sob debate. O envolvimento de Bannerman na divisão da igreja da Escócia para formar a Igreja Livre, sem dúvidas, fez com que ele formulasse sua doutrina da Igreja com grande cuidado, o que é refletido neste livro. Esta obra se tornou um texto clássico para a compreensão presbiteriana e reformada sobre a Igreja. Ela deve provar ser muito útil para os presbiterianos do Brasil que a tenham como texto padrão sobre a Igreja para aprofundar a compreensão bíblica desse assunto. Ela é digna de ser considerada como livro-texto padrão para seminários na área de Eclesiologia.

É muito provável que meu tio-avô, o Rev. John Rockwell Smith, missionário enviado ao Brasil pela Igreja Presbiteriana do Sul (EUA), e primeiro pastor da Igreja Presbiteriana do Recife, estivesse familiarizado com esse trabalho e o tenha usado em suas aulas, tanto no seminário de São Paulo quanto em Campinas - MORTON H. SMITH 

"A Igreja de Cristo", de James Bannerman, é o tratamento mais exemplar, abrangente, sólido, e reformado da doutrina da igreja já escrito. É indisputavelmente o clássico sobre o assunto. Todo ministro e presbítero deve ter uma cópia desse livro, e os membros da igreja estariam muito melhor informados se o lessem cuidadosamente. Quantos problemas seriam dirimidos se as igrejas usassem Bannerman como seu manual primário para o entendimento do que é a igreja e como ela funciona! - JOEL BEEKE.

Na história do pensamento presbiteriano sobre a igreja, o teólogo da Igreja Livre da Escócia no século dezenove, James Bannerman, é um gigante. Sua grande obra, A Igreja de Cristo, é talvez o mais minucioso exame bíblico, teológico e histórico já escrito da doutrina presbiteriana da igreja. Se você está à procura de uma declaração de princípios presbiterianos ou de uma discussão aprofundada de questões tais como a natureza e extensão do poder da igreja, esse livro é para você. Ele deveria ser leitura obrigatória para cada oficial presbiteriano e para todo candidato ao ofício. - CARL TRUEMAN.

Para aqueles que desejam estudar a doutrina da Igreja em seus vários aspectos e uma vez que foi realizada pela maioria dos Reformadores, Puritanos, Covenanters e líderes da "Terceira Reforma", isso irá provar ser um livro de valor inestimável. - IAN MURRAY.

Quero enfaticamente encorajar a republicação desta obra ímpar de James Bannerman sobre "A Igreja de Cristo". Em dias como os nossos, de grande ignorância sobre a questão da autoridade da igreja, este volume é especialmente inestimável. Ele merece estudo detalhado por parte de presbíteros, seminaristas (e seminários!), e de todos aqueles que sinceramente desejam honrar a Cristo, o único Rei e Cabeça da igreja. - WILLIAM SHISHKO.

Detalhes do produto

Editora: Editora Clire
Idioma: Português
Capa dura: 930 páginas
ISBN-13: 979-8654144829
Idade de leitura: 12 anos e acima
Dimensões: 15.6 x 4.67 x 23.39 cm

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05 julho 2024

Sou eleito então posso pecar à vontade?

"Faz, ó Senhor, resplandecer sobre nós a luz do teu rosto!" Este clamor do Salmo 4.6 reflete a aspiração por experimentar a presença de Deus em nossas vidas.

É através desta luz que os eleitos são capacitados para viverem vidas santificadas, não por esforços próprios em busca de salvação, mas como uma resposta ao amor e à graça de Deus.

A santificação, então, torna-se não apenas um processo mas uma jornada de crescimento espiritual onde a luz de Deus resplandece sobre nós, revelando Seu propósito redentor.

Portanto, permita-me dizer: se o pecado, que é um padrão de vida contrário aos propósitos de Deus, é algo que lhe traz satisfação, que o atrai como um ímã atrai um pedaço de metal, então é possível que você ainda esteja espiritualmente morto em seus delitos e pecados (Efésios 2.1-3), nunca tendo experimentado a regeneração.

Um salvo nunca se sentirá confortável com o seu pecado; não por causa do julgamento alheio, mas por causa do olhar sempre presente de Deus (1 Jo 3.9,10). Um salvo não se sente desconfortável com seu pecado simplesmente porque isso o condenará, mas porque o pecado ofende a santidade de Deus.

Algumas pessoas, seja por ignorância ou por desonestidade intelectual, afirmam equivocada ou maldosamente que a eleição é uma doutrina perigosa, pois, para elas, se a eleição é verdadeira, os eleitos podem viver de qualquer jeito, pecar à vontade, que, no final, serão salvos. Ledo engano.

Essas, geralmente, são pessoas influenciadas por uma "teologia penitencial" e meritória. Buscam ser "santas" por medo do inferno, e não por amor a Deus. Na verdade, elas amam mais a si mesmas e as suas obras do que a Deus, pois seguem "rituais" na tentativa de alcançar algum nível de perfeição" para se salvar da condenação que tanto temem.

Elas contestam a doutrina da eleição incondicional, pois foram ensinadas a viver por recompensas, a fazer para receber. Foram doutrinadas a viver uma vida de barganha com Deus; uma espécie de misticismo, como se isso fosse suficiente. Não entendem que a santidade é uma consequência da salvação, e não a causa dela.

Mas, afinal, pode um eleito viver como quiser? Na verdade, alguém que pensa que pode viver de forma libertina, deleitando-se em todo tipo de pecado e usa a doutrina da eleição como justificativa para isso, está mostrando com seus frutos que não é um eleito que ainda não foi Ou regenerado; se é que um dia será (Gl 5.13).

Os eleitos foram chamados à santidade. Não uma "santidade" que vem de sua "justiça própria" caída, comparada a trapos de imundícia (ls 64.6), mas, aquela que vem através da obra santificadora do Espírito Santo. Os eleitos foram criados em Cristo, não por causa das boas obras, mas PARA andarem nelas (Ef 2.10).

O propósito da eleição é tornar os eleitos santos e capacitá-los ao esforço moral. Como disse Spurgeon: 'A escolha de Deus torna os homens escolhidos em homens de escolha" .

Se você diz: "Sou santo para ser salvo", busca a glória para si. Mas ao dizer: "Sou santo porque sou salvo', a glória é toda de Deus.

Um eleito eventualmente pecará, pois é humano; mas nunca se deleitará na prática do pecado. Deus predestinou os eleitos para serem conforme a imagem de Seu Filho, portanto, santos. A santidade é um processo e não será completada aqui na terra, mas isso não significa que você possa ser "amiguinho do pecado." Como disse Thomas Watson: "A santificação é a marca distintiva das ovelhas de Cristo."

Portanto, um eleito não busca a santificação para ser salvo ou por medo do inferno, como muitos fazem, achando que suas obras serão suficientes. Pelo contrario, por ser salvo, ele busca a santificação, mesmo com suas limitações, para o louvor e a glória de Deus, e não para si mesmo. Compreender isso é entender que a eleição é incondicional.

Texto extraído da internet (Instagram)