31 março 2024

[Exposição] Além do Túmulo | Lucas 24:1-12

Ao lermos a narrativa bíblica da crucificação e as últimas horas do Salvador na cruz, nossos corações se enchem de tristeza. Com enorme dificuldade, Jesus luta para encher seus pulmões com ar suficiente para declarar: "Está consumado!". E então, entrega sua vida.

Sendo judeu, era crucial que seu corpo fosse retirado da cruz e sepultado antes do pôr do sol. Nicodemos e José de Arimatéia obtiveram permissão de Pilatos para realizar tal tarefa. Eles colocaram o corpo de Jesus em um novo túmulo pertencente a José. A entrada do túmulo foi então selada com uma pedra e, posteriormente, um selo romano foi aplicado, com soldados romanos encarregados de vigiar o local.

Ele salvou outros, mas não pôde salvar a si mesmo. Realizou grandes milagres para o bem de muitos, mas agora jazia inerte na morte. Seus discípulos vagavam pelas ruas, chorando e lamentando: "Está tudo acabado. Ele está morto".

Mas a morte não o deteria! Um túmulo de pedra não poderia aprisionar o poderoso Cristo. Um dia se passa, depois outro, e então, uma manhã chega! E chegou a manhã do terceiro dia, num domingo.

Ao amanhecer, algumas mulheres que o amavam dirigiram-se ao túmulo. Para sua grande surpresa, a pedra havia sido removida. Elas correram para o local, temerosas de que alguém tivesse profanado o túmulo de seu Salvador e roubado seu corpo. No entanto, elas encontraram dois anjos com uma mensagem de grande importância: "Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galiléia" (Lucas 24:5-6). Era, portanto, uma mensagem que proclamava a vida após a morte!

Esta é a maior mensagem já compartilhada com o mundo: Jesus está vivo! Pois a morte não o deteve! O túmulo está vazio e Jesus vive! Então, nos quarenta dias subsequentes, ele se manifestou em seu corpo ressuscitado diversas vezes para seus amigos. Depois, ele ascendeu ao céu e está lá hoje! Servimos a um Salvador ressuscitado! Não adoramos um Deus morto, mas sim um Deus que vive! Vejamos então, algumas lições disso:

1) A Prova de Vida

As Escrituras Sagradas narram os relatos de diversas pessoas que presenciaram a ressurreição de Jesus Cristo. Ele apareceu a Maria Madalena, que pensou que Ele era o jardineiro em Marcos 16:9. Ele apareceu às outras mulheres em Mateus 28:9. E apareceu aos discípulos no caminho de Emaús em Lucas 24:15. Ele apareceu a Simão Pedro (1 Coríntios 15:5). Ele apareceu aos discípulos sem a presença de Tomé em João 20:26. Apareceu aos onze apóstolos no cenáculo em Lucas 24:36. Ele apareceu no mar da Galiléia em João 21:1. De acordo com 1 Coríntios 15:7, Ele apareceu aos quinhentos irmãos. Ele apareceu a Tiago (1 Coríntios 15:7) e apareceu novamente aos onze em Sua ascensão em Lucas 24:50. Todos foram testemunhas oculares da ressurreição de Cristo, não há dúvida sobre isso!

A mudança na vida dos discípulos é outra prova. Antes da ressurreição, eles morriam de medo das autoridades romanas. Pois, Jesus os encontrou amontoados no cenáculo, temendo por suas vidas. Mas quando viram que Jesus havia vencido a morte, souberam que Ele nunca os decepcionaria.

Saíram com uma nova ousadia e força que não puderam ser superadas com as ameaças das autoridades. Eles conheceram o poder da ressurreição e mudaram seu mundo proclamando a mensagem da vida além do túmulo!

A influência contínua de Cristo no mundo é outra prova irrefutável de sua ressurreição. Saulo, o implacável perseguidor de cristãos, se converteu em Paulo, o grande apóstolo e pregador do Evangelho. Simão Pedro, que negou Jesus por três vezes, se tornou um poderoso proclamador da fé, levando milhares de pessoas a Cristo. Homens e mulheres que antes viviam em vícios e pecados se transformaram em missionários e servos dedicados, tudo por causa do poder transformador da ressurreição de Jesus Cristo. As incontáveis ​​evidências demonstram que Jesus Cristo de fato ressuscitou dos mortos, impactando e transformando o mundo para sempre.

2) A Verdade da Vida

As Escrituras Sagradas proclamam a verdade incontestável das palavras de Cristo. Ele afirmou ser Deus, e na sua ressurreição, essa verdade se manifestou com poder inigualável. Ele proclamou ser o cumprimento das profecias, o Messias com domínio sobre a vida e a morte, e sua ressurreição selou essa promessa com o triunfo final.

As palavras de Jesus, por mais estranhas e maravilhosas que fossem, se mostraram verdadeiras em sua ressurreição. Sua promessa de reconstruir o templo em três dias (João 2:19), sua oferta de vida eterna aos que nele confiam (João 10:28) – tudo se cumpriu na Sua morte e ressurreição e se cumprirá na grandiosidade da ressurreição futura de todos nós.

Ao contrário de outros líderes religiosos, que jazem em seus túmulos, Jesus vive! Vá ao túmulo de Maomé, de Confúcio, do Buda ou qualquer outro líder religioso, e você encontrará apenas a morte e restos mortais. Mas no jardim do sepulcro de Jesus, a mensagem ecoa: "Ele não está aqui, ele ressuscitou!".

O mundo, em sua visão limitada e distorcida da Páscoa, insere elementos estranhos como coelho e ovo, porém é notório que o mundo se concentra na imagem de um Jesus ensanguentado, morto e crucificado, ano após ano, como se repetisse a sua morte, num luto que se repete anualmente. Pessoas em procissões carregando cruzes, focando nos sofrimentos de Cristo e na sua morte, e apenas isso. Mas a verdadeira Páscoa, a que as Escrituras revelam, celebra um Deus vitorioso sobre a morte! Sim, Ele morreu, mas morreu uma única vez “pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus, morto, sim, na carne, mas vivificado no Espírito [...] o qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus…” (1 Pedro 3:18,22). Sua ressurreição nos garante a promessa de vida eterna, a vitória sobre a morte e a redenção completa no mundo vindouro. Nós cristãos temos o verdadeiro motivo para celebrar: A verdadeira Páscoa celebra a vitória de Jesus sobre a morte.

A cruz está vazia! O túmulo está vazio! Precisamos de um Salvador vivo que nos auxilie nos fardos da vida, que nos ofereça esperança quando tudo parece perdido e que interceda por nós diante de um Deus justo e santo. E esse Salvador é Jesus Cristo, ressuscitado e vitorioso!

3) O Chamado da Vida

A ressurreição de Jesus Cristo não é apenas um evento histórico, mas um chamado à mudança de vida. Ela nos convida a sairmos do pecado e viver uma vida nova em Cristo. Para o crente nascido de novo, todo domingo, Dia do Senhor, é Páscoa. A cada domingo, celebramos a vitória de Jesus sobre a morte e somos lembrados de que também podemos ressuscitar para uma vida nova, livre do pecado.

A ressurreição nos convida a darmos as costas ao pecado e vivermos uma vida santa. Jesus nos ensinou que devemos nos lembrar de seu sacrifício ao participar da Santa Ceia. Veja o que o apóstolo Paulo diz:

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Coríntios 11:23-26).

Ao celebrarmos a Ceia do Senhor, somos lembrados do preço que Ele pagou por nossos pecados e do nosso compromisso de viver uma vida que o honre. Sim, a páscoa foi substituída pela Ceia por Jesus Cristo, sinalizando uma nova aliança para remissão de pecados (Mateus 26:28).

A ressurreição também nos chama a uma vida de amor e serviço ao próximo. Jesus, após sua ressurreição, deu à sua igreja a missão de ir a todos os lugares e proclamar as boas novas da salvação.

Embora nem todos possam pregar ou ir a campos missionários, todos nós somos chamados a compartilhar a mensagem de Jesus com aqueles que nos rodeiam. Podemos falar sobre o amor de Deus e a sua salvação em qualquer lugar e a qualquer hora.

A ressurreição de Jesus Cristo é um evento histórico que nos transforma e nos convida a viver uma vida nova. Que sejamos motivados por este amor e poder a abandonar o pecado, celebrar a vida eterna e compartilhar a mensagem de Jesus com o mundo.

Conclusão

Você conhece o poder da ressurreição de Jesus Cristo? Você aceitou pessoalmente a Sua obra consumada no Calvário como pagamento pelo seu pecado?

Se você morresse, você sabe ao certo onde passaria a eternidade? Você pode conhecê-lo hoje! O convite de hoje é para você vir e receber a Cristo. Em Cristo temos esperança de vida eterna. Sua vitória sobre a morte garante a nossa.

Todos os anos o mundo está de luto. É assim que os ímpios retratam a páscoa. Mas a morte de Jesus não se repete. Não há luto para o cristão! Há vida para nós além do túmulo! A ressurreição de Jesus Cristo, nosso cordeiro pascal (1 Coríntios 5:7), é a base da fé cristã. Ela nos revela um Deus poderoso, amoroso e vitorioso, que nos oferece a oportunidade de ter vida eterna. Que essa verdade fortaleça nossa fé a cada dia! E que, diferente do mundo, possamos declarar que o túmulo está vazio, que a cruz está vazia. Até a Morte morreu na Morte de Cristo e que agora o que temos é Jesus vivo, reinando, onde agora podemos ter vida eterna, longe de tudo que cheire a morte. Essa é a mensagem da cruz. Essa é a mensagem da nossa páscoa!


29 março 2024

Sexta-feira da Paixão

Por Augustus Nicodemus 

A Sexta-feira da Paixão é um dia importante para o calendário litúrgico católico, um dia de rememoração do sofrimento, e da crucificação de Jesus Cristo. Para os católicos, esse é um dia de profunda reflexão espiritual, jejum e oração, onde tradicionalmente os rituais e tradições buscam honrar o sacrifício de Cristo na cruz. Igrejas ao redor do mundo se organizam para celebrar a Via Sacra, onde se reencena o caminho de Jesus até o Gólgota, e a celebração da Paixão do Senhor, assim chamada na liturgia porque a morte do filho de Deus sempre aconteceu às 15h, simbolizando a 15ª hora do dia.

Todos esses acontecimentos simbolizam para os católicos o momento de maior dor e separação de Deus pela humanidade. Em contraponto, para a maioria dos evangélicos, a Sexta-feira da Paixão não mantém o mesmo peso ritualístico e cerimonial. Afinal, a morte de Cristo na cruz, embora central na teologia evangélica como o ato definitivo de redenção e culminar do plano salvífico divino, raramente é contemplada com práticas ou tradições na maior parte dos templos evangélicos. Isso porque os evangélicos tendem a optar por uma enfatização mais direta da narrativa do Evangelho da Bíblia e da reflexão pessoal do significado da cruz, ao invés de seguir um calendário litúrgico específico.

Para os reformados, todos os dias são oportunidades para relembrar o sacrifício de Cristo, e a ressurreição é a própria vitória de Jesus, sendo a celebração no Domingo a expressão máxima da vitória de Jesus. A maior parte dos evangélicos não mantém um foco central na data da morte e celebração da ressurreição em datas específicas, preferindo agir de maneira íntima. Por isso, enquanto a Sexta-feira da Paixão é um dia de silêncio e sombra para os católicos, se o dia for lembrado de alguma maneira pelos evangélicos, será um dia de reflexão e agradecimento, lembrando da morte de Cristo com um olhar também direcionado à alegria que virá no Domingo de manhã com a ressurreição.



28 março 2024

O Símbolo da Sarça Ardente na História da Igreja

Por Aaron Denlinger 

Por que a Bíblia de Estudo da Reforma usa o símbolo da sarça ardente? Dr. Aaron Denlinger, do Reformation Bible College, explica a história dessa imagem icônica e sua conexão com a Reforma.

“Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, mas não se consumia.” (Êxodo 3:2)

Em 1583, um pequeno grupo de pastores e anciãos huguenotes se reuniu na cidadezinha de Vitré, no noroeste da França, para o décimo segundo sínodo nacional da recém-criada Igreja Reformada Francesa. A maior parte do tempo da reunião foi dedicada a solidificar as relações com igrejas reformadas de países vizinhos e a julgar questões sobre batismo e casamento que haviam surgido em igrejas específicas desde o sínodo anterior. Em meio a esses assuntos mais urgentes, os presentes tomaram a decisão um tanto curiosa de que sua igreja deveria ter um selo oficial, algo que pudesse ser anexado às decisões oficiais de seus sínodos, servindo assim como uma marca da autenticidade e autoridade dessas decisões para as congregações individuais por toda a nação.

Não temos detalhes sobre quem exatamente propôs ou projetou o selo finalmente adotado por esses líderes huguenotes, mas temos descrições contemporâneas de sua aparência. No centro, estava a sarça ardente descrita em Êxodo 3 – aquela sarça através da qual Deus falou a Moisés e, por fim, revelou Seu nome: "Eu Sou o que Sou". No meio da sarça, o nome de Yahweh estava gravado em letras hebraicas. Em um padrão circular ao redor da sarça, aparecia a frase latina Flagror non consumor - "Eu queimo, [mas] não sou consumido".

A decisão de incorporar a sarça ardente ao selo oficial da Igreja Reformada Francesa provavelmente foi influenciada por comentários feitos pelo reformador João Calvino em seu comentário sobre o livro de Atos. Comentando especificamente sobre Atos 7:30, que menciona o encontro de Moisés com Deus no deserto do Sinai, Calvino observou que a sarça ardente constitui uma metáfora ou imagem especialmente apropriada da igreja militante ao longo dos tempos. A igreja está continuamente sujeita, nas palavras de Calvino, ao "fogo da perseguição", mas – de acordo com a promessa de Cristo (cf. Mateus 16:18) – ela é sempre impedida de "ser reduzida a cinzas", sustentada não por sua própria força, mas pela presença de Deus em seu seio.

A descrição de Calvino da igreja e dos sofrimentos que ela deve suportar, simbolicamente representados pela sarça ardente, teria ressoado profundamente com os líderes huguenotes reunidos em 1583. A fé reformada era ilegal na França, e os crentes reformados franceses haviam sido submetidos a severos tratamentos nas décadas anteriores. A perseguição atingiu seu pico onze anos antes com o Massacre da Noite de São Bartolomeu, episódio em que milhares de protestantes reformados em Paris e outras grandes cidades do país foram massacrados por suas convicções. Assim, a imagem da sarça ardente – apontando, pelo menos no tratamento de Calvino, tanto para o sofrimento que o povo de Deus enfrenta quanto para a presença sustentadora do Deus Todo-Poderoso – naturalmente teria lhes parecido um emblema adequado para sua igreja.

Esses líderes reformados também podem ter tido motivos polêmicos para incorporar a sarça ardente ao selo de sua igreja. A igreja pré-Reforma descobriu seu próprio significado na sarça ardente, sugerindo que ela servia como um tipo ou imagem profética de Maria, a mãe de Cristo, que – assim como a sarça ardia, mas permanecia intacta – deu à luz o Filho de Deus, mas permaneceu para sempre virgem. Essa suposta analogia entre a sarça ardente e Maria havia sido explorada na arte religiosa medieval; assim, por exemplo, uma famosa pintura do artista francês do século XV Nicolas Froment, agora alojada na Catedral de Aix, retrata Maria segurando o menino Jesus no centro da sarça ardente. Quando os líderes huguenotes em Vitré abraçaram a sarça ardente como um emblema de sua igreja, eles talvez estivessem simultaneamente dando uma cutucada na devoção excessiva a Maria que caracterizava seus contemporâneos católicos romanos, devoção regularmente justificada com base em referências bíblicas tênues ao papel de Maria na economia da salvação.

Por falar nisso, eles também podem ter dado uma cutucada na veneração idólatra que seus pares católicos romanos davam às imagens religiosas, já que – como observado – a suposta relação de Maria com a sarça ardente era frequentemente representada em obras de arte que adornavam os locais de culto de seus contemporâneos católicos romanos. Curiosamente, esses crentes reformados franceses não se sentiam incomodados em reimplementar a sarça ardente como um ícone com significado religioso na correspondência oficial da igreja ou, eventualmente, em seus próprios locais de culto. Presumivelmente, o conforto deles com essa imagem religiosa específica derivava da sensação de que era improvável que se tornasse um objeto de adoração idólatra.

Sejam quais forem os motivos precisos para adotar a sarça ardente como selo de sua igreja, aquela decisão dos líderes reformadores franceses em 1583 teve consequências duradouras. A sarça ardente tem figurado no emblema oficial da Igreja Reformada Francesa desde então. E, significativamente, as igrejas reformadas de outros países eventualmente seguiram o exemplo dos huguenotes, incorporando a imagem em seus próprios selos e emblemas oficiais.

Na Escócia, isso aconteceu em grande parte por acidente. Pouco depois do presbiterianismo ser restabelecido em 1690, a Igreja da Escócia (a Kirk) encarregou um impressor de Edimburgo chamado George Mosman de imprimir registros de suas assembleias gerais anuais. Mosman tomou a liberdade de incluir na página de título do primeiro e dos subsequentes Acts of the Assembly publicados uma imagem circular da sarça ardente, completa com a frase latina sobrescrita Nec tamen consumebatur ("ainda não foi consumida") e colocada – pelo menos em uma versão inicial – contra um pano de fundo quadrado com cardos escoceses em cada canto. As autoridades da Kirk aparentemente não se opuseram a isso, presumivelmente porque estavam familiarizadas com o uso do símbolo da sarça ardente pela Igreja Reformada Francesa e porque o consideravam um emblema apropriado para sua própria igreja, à luz dos sofrimentos que haviam suportado e da proteção divina que haviam desfrutado ao longo do século anterior. De fato, a sarça ardente havia figurado como uma imagem literária da Kirk e de suas provações perpétuas nos escritos de covenanters escoceses proeminentes como Samuel Rutherford. Informal e não oficialmente, então, a sarça ardente se tornou e permaneceu o símbolo da Igreja da Escócia, ganhando status oficial eventualmente. Um dos lugares mais intrigantes onde a imagem apareceu na história da Kirk escocesa é nas moedas cunhadas, chamadas de "tokens de comunhão", que as sessões da Kirk de séculos passados confiavam àqueles devidamente examinados por seus líderes e, portanto, admitidos na Ceia do Senhor.

Com a disseminação do presbiterianismo pelo mundo a partir do século XVII – especialmente por meio de emigrantes escoceses –, ele tipicamente carregava consigo alguma versão do símbolo adotado pela Igreja da Escócia. Hoje, a sarça ardente figura nos brasões oficiais das Igrejas Presbiterianas da Irlanda, Irlanda do Norte, Canadá, Brasil, Austrália, Nova Zelândia, Taiwan, Singapura, Malásia, África Oriental (Quênia e Tanzânia) e África do Sul (África do Sul, Zâmbia e Zimbábue). Igrejas com relações históricas mais imediatas com a Kirk escocesa, como a Igreja Livre da Escócia e a Igreja Livre Unida da Escócia, também mantiveram alguma forma do emblema da sarça ardente. No entanto, a sarça ardente não figurou nos brasões oficiais das denominações presbiterianas nos Estados Unidos ou em igrejas presbiterianas em outros lugares fundadas predominantemente por influência americana, como as da Coreia do Sul.

Mas a imagem da sarça ardente, com tudo o que ela significa – o sofrimento da igreja nesta era, a presença permanente e preservadora de Deus no meio da igreja e, finalmente, a autorrevelação de Deus ao Seu povo – ainda retém presença no mundo reformado nos Estados Unidos. Ela aparece em vários projetos de alcance do Ministério Ligonier, o ministério educacional cristão fundado por R.C. Sproul. Assim, por exemplo, encontramos o emblema de uma sarça ardente nas páginas de estudo bíblico diário da revista Tabletalk. A imagem figura ainda mais proeminentemente no design da Bíblia de Estudo da Reforma revisada. Empregado nesses contextos específicos, o emblema da sarça ardente serve para conectar cristãos reformados em todo o mundo que utilizam esses recursos a uma longa tradição de crentes reformados que abraçaram e encontraram conforto nessa imagem, e para lembrá-los de que Deus está com Seu povo (Dt 31:8; Mt 28:20) e, em última instância, os sustenta, através de tempos de provação e alegria, por meio de Sua Palavra revelada.


Dr. Aaron Denlinger é professor de História da Igreja e Teologia Histórica no Reformation Bible College.

Fonte: Ligonier


10 março 2024

O Primeiro Culto Protestante no Brasil: Um Marco Histórico

Em 10 de março de 1557, um marco histórico foi gravado nas terras brasileiras: a realização do primeiro culto protestante em solo nacional, e possivelmente, em todo o continente americano. Este evento singular, ocorrido na então França Antártida, na Ilha de Villegaignon, na Baía de Guanabara, representou muito mais que um ato religioso, mas sim a semente do pluralismo religioso e da liberdade de crença no Brasil.

A expedição francesa que chegou ao Rio de Janeiro em 1555 era composta por huguenotes, protestantes calvinistas que fugiam da perseguição religiosa na França. Liderados pelo almirante Nicolas Durand de Villegaignon, buscavam no Novo Mundo um refúgio para praticar livremente sua fé.

Três dias após a chegada à Baía de Guanabara, em 10 de março de 1557, os huguenotes realizaram o primeiro culto protestante em terras brasileiras. O reverendo Pierre Richier, pastor calvinista, foi o responsável por oficiar a cerimônia.

O culto foi realizado sob um grande carvalho, em um ambiente marcado pela simplicidade e fervor religioso. A leitura da Bíblia, orações, cânticos e sermão compuseram a cerimônia, que representou um momento de profunda fé e esperança para os huguenotes.

Embora a França Antártida tenha sido colonizada por um curto período, o primeiro culto protestante no Brasil deixou um legado duradouro. O evento simbolizou o início da luta pela liberdade de crença no país, abrindo caminho para a diversidade religiosa que hoje caracteriza o Brasil.

A expedição francesa à França Antártida foi composta por cerca de 600 pessoas, incluindo huguenotes, católicos e aventureiros.

O primeiro culto protestante no Brasil foi realizado em francês, com a presença de indígenas que observavam a cerimônia com curiosidade.

A experiência na França Antártida foi marcada por conflitos entre huguenotes e católicos, além de dificuldades de adaptação ao clima e à alimentação local.

Apesar do curto período da colonização francesa, o legado cultural e religioso do primeiro culto protestante no Brasil influenciou o desenvolvimento da sociedade brasileira.

Para saber mais:


06 março 2024

A Doutrina da Expiação Limitada Prejudica o Evangelismo?


Por RC Sproul 

Uma objeção frequentemente citada contra a doutrina da expiação limitada é que ela enfraquece o evangelismo. Todos os cristãos ortodoxos, incluindo os calvinistas, creem e ensinam que a expiação de Jesus Cristo deve ser proclamada a todos os homens. Devemos dizer que Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Existe o equívoco de que, como os calvinistas creem na doutrina da expiação limitada, eles não têm paixão para sair e pregar a cruz a todos. Desde Agostinho, os calvinistas têm sido cuidadosos em insistir que o evangelho deve ser oferecido a todos os homens, mesmo sabendo que nem todos responderão a ele. Muitos calvinistas têm sido evangelistas zelosos.

A doutrina da expiação limitada, na realidade, auxilia o evangelismo. O calvinista sabe que nem todos responderão à mensagem do evangelho, mas também sabe com certeza que alguns responderão. Por outro lado, o arminiano não sabe que nem todos responderão. Na mente do arminiano, é uma possibilidade teórica que todos se arrependam e creiam. No entanto, o arminiano também precisa lidar com a possibilidade de que ninguém responda. Ele só pode esperar que sua apresentação do evangelho seja tão persuasiva que o descrente, perdido e morto em suas transgressões e pecados, escolha cooperar com a graça divina para aproveitar os benefícios oferecidos na expiação.

Se pudermos superar esses supostos problemas com a doutrina da expiação limitada, podemos começar a ver a sua glória – que a expiação que Cristo fez na cruz foi real e eficaz. Não foi apenas uma expiação hipotética. Foi uma expiação real. Ele não ofereceu uma expiação hipotética pelos pecados do seu povo; seus pecados foram expiados. Ele não deu uma propiciação hipotética pelos nossos pecados; Ele realmente aplacou a ira de Deus para conosco. Em contraste, de acordo com a outra visão, a expiação é apenas uma potencialidade. Jesus foi à cruz, pagou a pena do pecado e fez a expiação, mas agora Ele está sentado no céu torcendo as mãos e esperando que alguém se aproveite da obra que realizou. Isso é estranho à compreensão bíblica do triunfo e da vitória que Cristo alcançou em sua morte expiatória.

Em Sua Oração Sacerdotal em João 17:6–9a, Jesus disse:

“Eu manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu me os confiaste, e guardaram a tua palavra. Agora, reconheceram que todas as coisas que me deste vêm de ti... Eles... reconheceram de fato que eu procedi de ti e creram que tu me enviaste. Eu rogo por eles.”

Este era Jesus, o Salvador, falando aqui. Observe que Ele disse que estava orando por Seus discípulos - não pelo mundo. Na oração de intercessão mais comovente que Ele ofereceu neste mundo como nosso Sumo Sacerdote, Jesus disse explicitamente que não estava orando por todos. Em vez disso, Ele estava orando pelos eleitos.

Há um plano de Deus designado para a sua salvação. Não é uma reflexão posterior ou uma tentativa de corrigir um erro.

É concebível que Jesus estivesse disposto a morrer pelo mundo inteiro, mas não orar pelo mundo inteiro? Isso não faz sentido. Ele estava sendo coerente. Ele havia vindo para dar a sua vida pelas suas ovelhas. Ele iria morrer pelo seu povo, e deixou claro aqui que eram aqueles por quem Ele estava prestes a morrer. Não há aqui questão de indiscriminação. Jesus estava prestes a fazer a expiação, e essa expiação seria eficaz para todos para quem Ele pretendia que fosse eficaz.

Se você pertence ao rebanho de Cristo, um de Seus cordeiros, então pode saber com certeza que uma expiação foi feita por seus pecados. Você pode se perguntar como pode saber se está entre os eleitos. Não posso ler o seu coração ou os segredos do Livro da Vida do Cordeiro, mas Jesus disse: “‘As minhas ovelhas ouvem a minha voz’” (João 10:27a). Se você quer que a expiação de Cristo seja válida para você, e se você colocar sua confiança nessa expiação e confiar nela para reconciliá-lo com o Deus Todo-Poderoso, em um sentido prático, você não precisa se preocupar com as questões abstratas da eleição. Se você colocar sua confiança na morte de Cristo para a sua redenção e crer no Senhor Jesus Cristo, então pode ter certeza de que a expiação foi feita por você. Isso, mais do que qualquer outra coisa, resolverá para você a questão do mistério da eleição de Deus. A menos que você seja eleito, não crerá em Cristo; você não abraçará a expiação nem confiará no sangue derramado por Ele para a sua salvação. Se você quiser, pode tê-la. É oferecida a você se você crer e confiar.

Uma das declarações mais doces dos lábios de Jesus no Novo Testamento é esta: “‘Vinde, benditos de meu Pai, herdai o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo’” (Mt 25:34b). Há um plano de Deus designado para a sua salvação. Não é uma reflexão posterior ou uma tentativa de corrigir um erro. Ao contrário, desde toda a eternidade, Deus determinou que redimiria para Si um povo, e o que Ele determinou fazer foi, de fato, realizado na obra de Jesus Cristo, Sua expiação na cruz. Sua salvação foi realizada por um Salvador que não é apenas um Salvador potencial, mas um Salvador real, Aquele que fez por você o que o Pai determinou que Ele fizesse. Ele é o seu Fiador, seu Mediador, seu Substituto, seu Redentor. Ele expiou seus pecados na cruz.

Fonte: Ligonier