22 outubro 2023

[Exposição] Despertem e Lembrem-se | 2 Pedro 1.12-21

A vida autêntica é a melhor defesa contra os falsos ensinamentos. Uma igreja em crescimento dificilmente se torna vítima de apóstatas e de seu cristianismo falsificado. No entanto, a vida cristã deve ser baseada na Palavra de Deus, pois ela está investida de autoridade. Para os falsos mestres, é fácil seduzir pessoas sem conhecimento da Bíblia, principalmente àqueles que desejam ter algum tipo de “experiências” com o Senhor. É perigoso edificar a fé somente sobre experiências subjetivas e ignorar a revelação objetiva.

Pedro trata da experiência cristã na primeira parte do primeiro capítulo (1-11) e na outra metade (12-21) vai abordar a revelação da Palavra de Deus. Seu objetivo é mostrar a importância de conhecer as Escrituras, a Palavra de Deus, e de se firmar inteiramente nela. O cristão que sabe em que crê e por que crê, raramente será seduzido por falsos mestres e por suas doutrinas errôneas. Pedro vai ressaltar a confiabilidade e durabilidade da Palavra de Deus fazendo um contraste entre as Escrituras e os homens, as experiências e o mundo.

Esta carta foi escrita aos cristãos da Ásia Menor, de acordo com 1 Pedro, no período de 67 dC, já no fim do reinado de Nero. É considerada uma “literatura de heresia”, ou seja, um dos livros do NT escrito para combater heresias. E talvez o tipo de heresia combatido nesta carta tenha sido o Gnosticismo¹ que já no séc 1 “rondava” círculos cristãos. Apesar das controvérsias, o autor é geralmente atribuído a Simão Pedro, o apóstolo de Jesus Cristo (1.1), que foi testemunha ocular da transfiguração de Jesus e que o negou por 3 vezes.

No texto que lemos, percebemos a preocupação de Pedro em levar os seus leitores a um patamar de edificação espiritual que fosse seguro contra os falsos mestres. E esse patamar só seria alcançado mediante o “despertamento” e o constante “lembrete” das verdades recebidas, do verdadeiro ensino. Daí temos o tema: Despertem e Lembrem-se!

1) Os homens morrem, mas a Palavra vive (v. 12-15)

Sabemos que os apóstolos e profetas do Novo Testamento lançaram os alicerces da Igreja (Ef 2.20) através da pregação e do ensino, e nós, de gerações posteriores, edificamos sobre esses alicerces. No entanto, os homens não constituem a fundação. Jesus é a fundação (1Co 3.11). Ele é a pedra angular que dá coesão ao edifício (Ef 2.20). Se a Igreja deseja permanecer de pé, não pode ter sua base construída sobre homens; antes, deve ser edificada sobre Jesus Cristo.

Podemos perceber pelo menos três motivações que dão razão ao ministério de Pedro ao escrever esta carta.

1) Obediência às ordens de Cristo, “sempre estarei pronto” (verso 12). Jesus havia dito a ele que quando ele se convertesse, deveria fortalecer os irmãos (ver Lc 22.32). Estar sempre pronto é o contrário de viver em preguiça, uma vez que a preguiça leva à destruição eterna (Pv 13.4; 24.30-34) e ser diligente leva à glória eterna. Pedro tencionava lembrá-los sempre. Mesmo que haja o conhecimento e determinação, há a necessidade de motivação e exortação.

2) Esta lembrança era a coisa certa a fazer (verso 13). “Considero justo…”, ou seja, “creio que é correto e apropriado”. É sempre correto estimular os crentes e lembrá-los da Palavra de Deus.

3) Diligência (verso 15). A palavra que o apóstolo usa aqui é a mesma que usou os versos 5 e 10. Significa “apressar-se em fazer algo”, “ser zeloso em fazer algo”. Pedro sabia que iria morrer em breve (ver João 21.18), por isso, desejava cumprir suas responsabilidades espirituais antes que fosse tarde demais. Pedro tinha consciência que a brevidade do seu mandato, aumenta o peso da sua responsabilidade diante de seus leitores. Uma vez que não sabemos quando iremos morrer, deveríamos começar a ser diligentes hoje mesmo!

Qual era o objetivo de Pedro? A resposta encontra-se em duas palavras usadas nos versos 12, 13 e 15 - lembrados e lembranças. Pedro desejava gravar a Palavra de Deus na mente dos seus leitores a fim de que jamais se esquecessem dela. “Despertai-vos com essas lembranças” (verso 13). O termo “despertar” significa estimular, acordar.

Os leitores desta carta conheciam a verdade e eram até confirmados na verdade (verso 12), mas isso não garantiam que se lembrariam para sempre dela e que a aplicariam. É por isso que o Espírito Santo foi dado à igreja, entre outros motivos, para lembrar os cristãos das lições que o Senhor Jesus ensinou (João 14.26). Lembrem-se: os homens morrem, mas a Palavra de Deus permanece!

Se não tivéssemos a revelação escrita confiável, estaríamos à mercê da memória humana. Felizmente é possível sim depender da Palavra de Deus pois ela está escrita e continuará escrita até a vinda de Jesus Cristo. É através desta Palavra escrita que somos salvos (1Pe 1.23-25). É através desta Palavra escrita que somos nutridos por ela (1Pe 2.2). É através desta Palavra escrita que somos guiados e protegidos ao crer e obedecer.

2) As experiências passam, mas a Palavra permanece (v.16-18)

Dos versos 16 a 18 temos como tema central a transfiguração de Jesus Cristo. Esse relato encontramos em Mateus 17, Marcos 9 e Lucas 9. No entanto, esses autores não estavam lá presentes quando ela ocorreu. Mas Pedro estava lá. Pedro traz à memória sua experiência de ter presenciado aquele evento.

Importante ressaltar o uso da primeira pessoa no plural. Trata-se de uma referência a Pedo, Tiago e João, os únicos apóstolos que presenciaram a Transfiguração. E serve para autenticar o testemunho apostólico, pois o evento descrito não foi visto apenas por Pedro. E também serve de testemunho para não acusar Pedro de ter criado essa “fábula engenhosa”. E cabe uma pergunta aqui: qual o significado da Transfiguração?

1) Confirmou o testemunho de Pedro acerca de Jesus Cristo (ver Mt 16.13-16). Pedro viu o Filho em sua glória e ouviu o Pai dizer do céu: “este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (2 Pe 1.17).

2) A Transfiguração teve um significado especial para Jesus Cristo, que se aproximava do Calvário. Foi a forma do Pai fortalecer o Filho para a provação terrível de ser sacrificado pelos pecados do seu povo. A Transfiguração foi prova de que, quando estamos dentro da vontade de Deus, o sofrimento conduz à glória.

3) Mensagem relacionada ao Reino prometido. Note que para cada relato da Transfiguração em Mateus, Marcos e Lucas, o relato começa com uma declaração sobre o Reino de Deus. Jesus prometeu que antes de morrerem, alguns discípulos veriam o Reino de Deus em poder (ver Mateus 16.28, Marcos 9.1, Lucas 9.27). E isso se cumpriu no monte da transfiguração.

Agora podemos entender porque Pedro usa esse acontecimento: para refutar falsos ensinos que dizia que o Reino de Deus nunca viria (ver 2 Pe 3.3 em diante). Daí Pedro apresenta um resumo do que viu e ouviu no monte da transfiguração. Viu a glória de Jesus e ouviu o testemunho do Pai sobre o Filho.

Nós não testemunhamos pessoalmente a Transfiguração, mas Pedro estava lá e apresenta um registro preciso de sua experiência na sua carta. As experiências passam, mas a Palavra de Deus permanece. As experiências são subjetivas, mas a Palavra de Deus é objetiva. As experiências podem ser interpretadas de diferentes formas pelos participantes, mas a Palavra de Deus apresenta uma única mensagem clara. As memórias de nossas experiências podem ser distorcidas inconscientemente, mas a Palavra de Deus não muda e permanece para sempre.

Ao lembrar da Transfiguração, Pedro afirma várias doutrinas importantes da fé cristã. Declara que Jesus Cristo é o Filho de Deus, da Sua Divindade. Declara a obra que Jesus Cristo veio fazer na terra, sua morte e ressurreição, trazendo redenção dos pecadores. Declara a veracidade das Escrituras, pois a Lei e os Profetas (Moisés e Elias) apontavam para Jesus Cristo (Hb 1.1-3). Declara a realidade do Reino de Deus, que o sofrimento conduziria à glória e que a cruz resultaria na sua coroação.

Pedro não pôde dividir essa experiência conosco, mas registrou essa experiência para que o tivéssemos gravado permanentemente na Palavra de Deus. Não é possível reproduzir essa experiência, porém temos o relato que nos devem conduzir à reflexão e meditação.

3) O mundo escurece, mas a Palavra resplandece (v.19-21)

O mundo tem-se deteriorado a cada nova geração. O mundo está mergulhado em trevas e isso não deveríamos nos espantar. Jesus advertia seus ouvintes que a igreja seria alvo de impostores que ensinariam falsas doutrinas (Mt 7.13-29), Paulo faz uma alerta semelhante aos presbíteros de Éfeso (At 20.28-35) e também em suas cartas (Rm 16.17-20; 2Co 11.1-15; Gl 1.1-9; Fp 3.17-21; Cl 2; 1Tim 4; 2Tm 3-4) e até mesmo João faz esse tipo de advertência (1Jo 2.18-29; 4.1-6). Ou seja, temos admoestações claras de que o mundo moral, espiritual, só iria de mal a pior e que afetaria a Igreja.

O mundo só escureceria cada vez mais, e a Palavra de Deus resplandeceria cada vez mais. Pedro faz três declarações acerca dessa Palavra:

É a Palavra confirmada (verso 19a). A experiência de Pedro no monte da transfiguração foi real e o registro bíblico é confiável. A Transfiguração foi uma demonstração da promessa da Palavra profética e hoje essa promessa é ainda mais certa por causa do que Pedro experimentou. A Transfiguração confirmou as promessas proféticas. Os apóstatas tentariam desacreditar a promessa da vinda de Cristo, mas as Escrituras são fiéis. A promessa do Reino foi reafirmada por Moisés, por Elias, pelo próprio Jesus Cristo e pelo Pai. E o Espírito Santo registrou essa verdade para ser lida para a sua Igreja. Pedro faz um tributo à validade das Escrituras, onde elas são mais dignas de crédito do que uma voz ouvida do céu. Aqui temos uma censura aos falsos mestres que, indo além das Escrituras, criam de forma artificial, teorias místicas. A experiência pela qual Pedro passou deu certeza da realidade futura.

“O testemunho do Senhor é fiel” (Sl 19.7). “Fidelíssimos são os teus testemunhos” (Sl 93.5). “Fiéis todos os seus preceitos” (Sl 111.7). “Por isso, tenho por, em tudo, retos os teus preceitos todos…” (Sl 119.128).

É a Palavra resplandecente (verso 19b). Pedro chama o mundo de “lugar tenebroso”. A palavra “tenebroso” aqui tem o sentido de algo “obscuro”. É um retrato de um porão escuro ou de um pântano sinistro. A história da humanidade começou em um jardim, belíssima, e hoje essa história está obscura, tenebrosa e sinistra. O sistema desse mundo indica a condição espiritual do nosso coração. Ainda podemos ver a beleza de Deus na criação, mas não vemos beleza alguma no que a humanidade faz com essa criação.

Deus é luz e a sua Palavra é luz: “Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra e luz para os meus caminhos” (Sl 119.105). Jesus Cristo iniciou seu ministério “aos que viviam na região e sombra da morte e resplandeceu-lhes a luz” (Mt 4.16). Sua vinda a este mundo foi a aurora de um novo dia (Lc 1.78). Para a igreja, Jesus Cristo é “a brilhante estrela da manhã” (Ap 22.16). Ele é o “sol da justiça” (Mt 4.1,2).

É a Palavra dada pelo Espírito (versos 20,21). Pedro aqui declara a doutrina da inspiração das Escrituras. Pedro afirma que as Escrituras não foram redigidas por homens que usaram as próprias idéias e palavras, mas sim por homens “movidos pelo Espírito Santo”, ou de acordo com a palavra grega pheromenói (“controlados e conduzidos”), eles foram conduzidos pelo Espírito Santo. As Escrituras não foram inventadas por homens, mas sim inspiradas por Deus.

Mais uma vez, vemos Pedro refutando os falsos mestres que ensinavam “palavras fictícias” (2Pe 2.3) e distorciam as Escrituras de modo a fazê-las significar outras coisas (2Pe 3.16) e que negavam a promessa da vinda de Cristo (2Pe 3.3,4). Uma profecia das Escrituras deve ser interpretada não com base nos pensamentos arraigados da velha natureza humana, tal como aquela dos falsos mestres, mas com base no que o Espírito Santo torna claro sobre o seu significado, já que Jesus enviou o Espírito para guiar os crentes à verdade (Jo 16.13). As Escrituras não resultam de um desvendamento particular. Os profetas não inventaram, pela força do desejo humano, aquilo que escreveram.

Deus é o Autor das Escrituras. Foi Ele quem as deu, bem como Ele é a correta interpretação, mediante iluminação.

Conclusão

Os homens morrem, mas a Palavra de Deus vive. As experiências passam, mas a Palavra permanece. O mundo escurece, mas a luz da Palavra de Deus resplandece. O cristão que edifica a vida pela Palavra de Deus e que espera a vinda do Salvador Jesus Cristo dificilmente será enganado por falsos mestres.

A mensagem de Pedro é: “despertem e lembrem-se!”. Há igrejas que, sem saber, dão espaço para o diabo atuar. Lembram da parábola do joio em Mateus 13.24-30? “O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas, enquanto todos estavam dormindo, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e foi embora”.

Devemos ter o cuidado com as falsificações de Satanás. Ele possui cristãos falsos (2Co 11.26) que acreditam num evangelho falso (Gl 1.6-9), estimula uma falsa justificação (Rm 10.1-3) e tem até mesmo uma igreja falsa (Ap 2.9). No final dos tempos, chegará ao cúmulo de produzir um falso cristo (2Ts 2.1-12).

Devemos permanecer alertas para que os ministros de Satanás não se infiltrem e causem estragos na congregação dos cristãos verdadeiros (2Pe 2; 1Jo 4.1-6). Nem tudo que é feito dentro do cristianismo é um produto de cristãos verdadeiros. Quando nós “dormimos”, Satanás se põe a trabalhar. Devemos nos opor a Satanás com a mesma diligência que ele se opõe ao verdadeiro ensino. Despertemos e lembremo-nos!

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¹
O gnosticismo do primeiro século era um movimento religioso e filosófico que se desenvolveu no Império Romano durante os primeiros séculos do cristianismo. Os gnósticos acreditavam em uma dualidade entre o espírito e a matéria, e que o mundo material era mau e satânico. O espírito humano, portanto, era prisioneiro do corpo. A salvação, para os gnósticos, era alcançada por meio do conhecimento (gnosis), que era transmitido a um iniciado por um mestre gnóstico. Os gnósticos acreditavam que Jesus Cristo era um ser espiritual, e não um ser humano. Eles acreditavam que Jesus Cristo era uma emanação da divindade superior, e que havia descido ao mundo material para libertar o espírito humano. Os gnósticos rejeitavam a crença cristã de que Jesus Cristo havia se tornado humano e que havia sofrido e morrido na cruz e negavam a ressurreição de Jesus Cristo.


14 outubro 2023

O que é a Teologia Reformada?

Por Jonathan Master 

Você já fez ou recebeu as seguintes perguntas: Você é Reformado? Quando você se tornou Reformado? Esta é uma igreja Reformada? Essas perguntas são comuns, mas podem ser surpreendentemente difíceis de responder.

Então, o que é a teologia Reformada? Em seu nível mais básico, o termo Teologia Reformada refere-se às conclusões teológicas que decorrem da Reforma Protestante. Os primeiros reformadores, como Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino, tinham críticas afiadas e específicas à teologia católica romana do final da Idade Média. Os reformadores rejeitaram o ensino católico romano sobre a natureza da justificação e o lugar da fé salvadora individual. Eles também rejeitaram as reivindicações católicas romanas sobre a autoridade do papa, afirmando que somente a Bíblia detinha o lugar de autoridade final em discussões doutrinárias. Além disso, rejeitaram a compreensão católica romana da adoração e o lugar e significado dos sacramentos do batismo e da comunhão.

Hoje, quando o termo Teologia Reformada é usado, muitas vezes refere-se a algo menos histórico. Frequentemente, refere-se a uma teologia que reconhece a doutrina da predestinação e mantém uma visão elevada da Bíblia como a Palavra inerrante de Deus. Às vezes, também é identificada com os chamados Cinco Pontos do Calvinismo: depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos. Esses são todos ensinamentos importantes da Tradição Reformada, mas não encapsulam completamente ou descrevem a Teologia Reformada.

Um melhor ponto de partida são cinco afirmações chamadas de Cinco Solas da Reforma. Esses cinco solas (sola é a palavra latina para "somente" ou "sozinho") são Sola Scriptura (somente a Escritura), Sola Fide (somente a fé), Sola Gratia (somente a graça), Solus Christus (somente Cristo) e Soli Deo Gloria (a glória somente a Deus). Juntas, essas solas expressam claramente as preocupações centrais da Reforma Protestante, que tratava tanto da adoração quanto da autoridade dentro da igreja, assim como da salvação individual. O "somente" em cada uma é vital e enfatiza a suficiência da Palavra de Deus e a natureza graciosa da salvação, recebida somente pela fé, em Cristo apenas. O último dos cinco solas, Soli Deo Gloria, é a consequência natural dos quatro primeiros. Ele nos lembra que a Teologia Reformada entende toda a vida em termos da glória de Deus. Ser Reformado em nosso pensamento é ser centrado em Deus. A salvação é do Senhor do início ao fim, e até mesmo nossa existência é um presente Dele.

A Teologia Reformada afirma os cinco solas com todas as suas implicações; reconhece a centralidade do pacto nos propósitos salvíficos de Deus; e é expressa em uma confissão de fé histórica e pública. Além dos cinco solas, há mais dois aspectos da Teologia Reformada a serem destacados. O primeiro é a doutrina do pacto. Nas Escrituras, vemos que Deus realiza seus propósitos salvíficos por meio de sucessivos pactos. De fato, a Bíblia fala de um "pacto eterno" abrangente, centrado na cruz de Cristo (Hebreus 13:20). Os pactos fornecem a estrutura bíblica para entender a obra de Deus em Cristo e seus tratos com seu povo ao longo da história. A centralidade dessa estrutura de pacto na Bíblia e na vida cristã dificilmente pode ser exagerada, e as ramificações para reconhecer esse tema central nas Escrituras são bastante significativas. De fato, esta é uma das razões pelas quais simplesmente enfatizar a predestinação, ou mesmo os cinco pontos do calvinismo, não faz justiça ao que significa ser um Cristão Reformado. A Teologia Reformada é uma teologia de toda a Bíblia, e o pacto é o quadro bíblico que mostra a unidade do Antigo Testamento e do Novo, centrando-se no Senhor Jesus Cristo.

Além disso, todas as expressões vibrantes e duradouras do Cristianismo Reformado têm confissões de fé que expressam suas convicções. As mais conhecidas das confissões maduras Reformadas incluem a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg e os Cânones de Dort (que juntos são chamados de Três Formas de Unidade), e a Confissão de Westminster, que tem seus próprios catecismos. Desde seus primeiros dias, presumiu-se que a Teologia Reformada seria expressa em confissões de fé. Portanto, ser Reformado é ser confessional, e ser uma Igreja Reformada é ser um lugar onde uma dessas confissões históricas é professada, ensinada e seguida.

O que é a Teologia Reformada? É uma teologia que 1) afirma os cinco solas com todas as suas implicações; 2) reconhece a centralidade do pacto nos propósitos salvíficos de Deus; e 3) é expressa em uma confissão de fé histórica e pública.

A Teologia Reformada é uma bênção para o povo de Deus. Em nossa salvação, em nossa adoração, em nossas igrejas e em nossas famílias, Deus é soberano, e Ele está trabalhando para cumprir seus propósitos. A Deus seja toda a glória.
Oh, a profundidade das riquezas e da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são seus juízos e quão inescrutáveis são seus caminhos! "Pois quem conheceu a mente do Senhor, ou quem foi seu conselheiro?" "Ou quem deu a ele algum presente para que fosse recompensado?" Porque dele, por meio dele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre. Amém. (Romanos 11:33–36)
Fonte: Ligonier


13 outubro 2023

Alimentando a Reforma

Por RC Sproul 

Sempre fico intrigado quando vejo letreiros de igrejas anunciando um próximo avivamento. Eles fornecem os horários e as datas em que a igreja estará envolvida em avivamento. Mas eu me pergunto, como alguém pode agendar um avivamento? Verdadeiros avivamentos são provocados pelo trabalho soberano de Deus, através do movimento de Seu Espírito Santo nos corações das pessoas. Eles acontecem quando o Espírito Santo entra no vale de ossos secos (Ezequiel 37) e exerce Seu poder para trazer nova vida, uma revivificação da vida espiritual do povo de Deus.

Esse tipo de coisa não pode ser manipulado por nenhuma programação humana. Historicamente, ninguém agendou a Reforma Protestante. O avivamento galês não estava na agenda de ninguém, assim como o Grande Despertamento Americano não estava marcado na agenda de alguém. Esses eventos épicos na história da igreja resultaram do trabalho soberano de Deus, que trouxe Seu poder para agir em igrejas que haviam se tornado virtualmente moribundas.

Mas precisamos entender a diferença entre avivamento e reforma. Avivamento, como a palavra sugere, significa uma renovação da vida. Quando o evangelismo é uma prioridade na igreja, tal esforço frequentemente resultará em avivamento. No entanto, esses avivamentos na vida espiritual nem sempre resultam em reforma. Reforma indica mudanças nas formas da igreja e da sociedade. Avivamentos se transformam em reformas quando o impacto do evangelho começa a mudar as estruturas da cultura. Avivamento pode produzir uma multidão de novos cristãos, mas esses novos cristãos precisam crescer até amadurecer antes de começarem a ter um impacto significativo na cultura circundante.

Reforma pode envolver uma mudança para o melhor. Não devemos ser tão ingênuos a ponto de pensar que toda mudança é necessariamente boa. Às vezes, quando sentimos que estamos em uma maré baixa ou que o progresso foi estagnado, clamamos por mudança, esquecendo por um momento que a mudança pode ser regressiva em vez de progressiva. Se eu beber um frasco de veneno, isso me mudará, mas não para melhor. No entanto, a mudança é frequentemente benéfica.

Em nossos dias, vimos o surgimento do que foi chamado de "Novo Calvinismo", que tende a se concentrar principalmente nos chamados cinco pontos do calvinismo. Esse movimento dentro da igreja atraiu muita atenção, até mesmo na mídia secular.

No entanto, seria prudente não identificar o calvinismo de forma exaustiva apenas com esses cinco pontos. Em vez disso, os cinco pontos funcionam como um caminho ou uma ponte para toda a estrutura da teologia reformada. O próprio Charles Spurgeon argumentou que o calvinismo é apenas um apelido para a teologia bíblica. Ele e muitos outros gigantes do passado entenderam que a essência da teologia reformada não pode ser reduzida a cinco pontos específicos que surgiram séculos atrás na Holanda em resposta à controvérsia com os arminianos, que objetavam a cinco pontos específicos do sistema de doutrina encontrado no calvinismo histórico. Para os propósitos deste artigo, pode ser útil examinar o que é e o que não é a teologia reformada.

A Bíblia, sendo a Palavra de Deus, reflete a coesão e unidade do Deus cuja Palavra é. A teologia reformada não é um conjunto caótico de ideias desconectadas. Pelo contrário, a teologia reformada é sistemática. A Bíblia, sendo a Palavra de Deus, reflete a coesão e unidade do Deus cuja Palavra é. Certamente, seria uma distorção impor um sistema de pensamento estrangeiro sobre as Escrituras, fazendo com que as Escrituras se conformem a ele como se fosse algum tipo de leito procrusteano. Esse não é o objetivo de uma teologia sistemática sólida. Pelo contrário, a verdadeira teologia sistemática busca entender o sistema de teologia contido em toda a extensão das Sagradas Escrituras. Ela não impõe ideias sobre a Bíblia; ela ouve as ideias proclamadas pela Bíblia e as compreende de maneira coerente.

A teologia reformada não é antropocêntrica. Isso quer dizer que a teologia reformada não é centrada nos seres humanos. O ponto focal central da teologia reformada é Deus, e a doutrina de Deus permeia todo o pensamento reformado. Assim, a teologia reformada, por meio da afirmação, pode ser chamada de teocêntrica. De fato, sua compreensão do caráter de Deus é primária e determinante em relação à sua compreensão de todas as outras doutrinas. Ou seja, sua compreensão da salvação tem como fator de controle, seu coração, uma compreensão particular do caráter soberano de Deus.

A teologia reformada não é anticatólica. Isso pode parecer estranho, uma vez que a teologia reformada surgiu diretamente do movimento protestante contra o ensino e a atividade do catolicismo romano. Mas o termo "católico" se refere ao cristianismo católico, cuja essência pode ser encontrada nos credos ecumênicos dos primeiros mil anos da história da igreja, especialmente nos conselhos da igreja primitiva, como o Concílio de Niceia no século IV e o Concílio de Calcedônia no século V. Ou seja, esses credos contêm artigos comuns de fé compartilhados por todas as denominações que abraçam o cristianismo ortodoxo, como a Trindade e a expiação de Cristo. As doutrinas afirmadas por todos os cristãos estão no coração e no núcleo do calvinismo. O calvinismo não parte em busca de uma nova teologia e não rejeita a base comum de teologia compartilhada por toda a igreja.

A teologia reformada não é católica romana em sua compreensão da justificação. Isso é simplesmente dizer que a teologia reformada é evangélica no sentido histórico da palavra. Nesse sentido a teologia reformada se alinha fortemente com Martinho Lutero e os reformadores magisteriais em sua articulação da doutrina da justificação pela fé, assim como a doutrina da sola Scriptura. Nenhuma dessas doutrinas é explicitamente declarada nos cinco pontos do calvinismo; no entanto, de certa forma, elas se tornam parte do alicerce para as outras características da teologia reformada.

Tudo isso é dizer que a teologia reformada transcende muito além dos meros cinco pontos do calvinismo, sendo uma visão de mundo completa. Ela é pactuar. Ela é sacramental. Ela está comprometida em transformar a cultura. Ela é subordinada à operação de Deus, o Espírito Santo, e tem um rico arcabouço para entender a totalidade do conselho de Deus revelado na Bíblia.

Portanto, é evidente que o desenvolvimento mais importante que trará a reforma não é simplesmente o avivamento do calvinismo. O que deve acontecer é a renovação da compreensão do próprio evangelho. É quando o evangelho é claramente proclamado em toda a sua plenitude que Deus exerce Seu poder redentor para trazer renovação na igreja e no mundo. É no evangelho e em nenhum outro lugar que Deus deu Seu poder para a salvação.

Se quisermos a reforma, temos que começar por nós mesmos. Precisamos começar a trazer o próprio evangelho para fora da escuridão, de modo que o lema de cada reforma seja post tenebras lux ("depois da escuridão, luz"). Lutero declarou que cada geração deve declarar de maneira fresca o evangelho do Novo Testamento. Ele também disse que sempre que o evangelho é clara e ousadamente proclamado, isso trará conflito, e aqueles de nós que são inerentemente avessos ao conflito encontrarão tentador submergir o evangelho, diluir o evangelho ou obscurecer o evangelho para evitar conflitos. Claro, podemos adicionar ofensa ao evangelho por nossas próprias tentativas mal-educadas de proclamá-lo. Mas não há como remover a ofensa que é inerente à mensagem do evangelho, porque é uma pedra de tropeço, um escândalo para um mundo caído. Inevitavelmente, trará conflito. Se quisermos a reforma, devemos estar preparados para suportar tal conflito para a glória de Deus.

Fonte: Ligonier

02 outubro 2023

O que é o Estado Intermediário?

"Ela não está morta, mas dormindo" (Lucas 8:52). Jesus fez este comentário sobre a filha de Jairo quando estava prestes a ressuscitá-la dos mortos. Frequentemente, a Bíblia se refere à morte pela figura do "sono". Por causa desta imagem, alguns concluíram que o Novo Testamento ensina a doutrina do sono da alma.

O sono da alma é geralmente descrito como uma espécie de animação suspensa temporária da alma entre o momento da morte pessoal e o tempo em que nossos corpos serão ressuscitados. Quando nossos corpos são ressuscitados dos mortos, a alma é despertada para começar a continuidade pessoal consciente no céu. Embora séculos possam passar entre a morte e a ressurreição final, a alma "adormecida" não terá consciência consciente da passagem do tempo. Nossa transição da morte para o céu parecerá instantânea.

O sono da alma representa um afastamento do cristianismo ortodoxo. Permanece, no entanto, como um relatório minoritário firmemente entrincheirado entre os cristãos. A visão tradicional é chamada de estado intermediário. Esta visão sustenta que na morte, a alma do crente vai imediatamente estar com Cristo para desfrutar de uma existência pessoal, consciente e contínua enquanto aguarda a ressurreição final do corpo. Quando o Credo dos Apóstolos fala da "ressurreição do corpo", não se refere à ressurreição do corpo humano de Cristo (que também é afirmada no Credo), mas à ressurreição de nossos corpos no último dia.

Mas o que acontece nesse ínterim? A visão clássica é que na morte as almas dos crentes são imediatamente glorificadas. Eles são aperfeiçoados em santidade e entram imediatamente na glória. Seus corpos, no entanto, permanecem no túmulo, aguardando a ressurreição final.

No estado intermediário, desfrutaremos da continuidade da existência pessoal consciente na presença de Cristo.

Jesus prometeu ao ladrão na cruz que "hoje estarás comigo no Paraíso" (Lucas 23:43). Aqueles que apoiam o conceito de sono da alma argumentam que Jesus não poderia ter dito que encontraria o ladrão no paraíso naquele mesmo dia, porque Jesus estaria morto por três dias e Ele ainda não havia ascendido. Embora a ascensão de Cristo realmente ainda não tivesse ocorrido e Seu corpo certamente estivesse no túmulo, Ele havia recomendado Seu espírito ao Pai. Temos a certeza de que no momento de Sua morte, a alma de Jesus foi para o Paraíso como Ele declarou. Os defensores do sono da alma argumentam que a maioria das edições inglesas da Bíblia colocou a vírgula incorretamente. Eles leem desta forma: "Eu te digo hoje, você estará comigo no Paraíso."

Com esta mudança na pontuação, o "hoje" então se refere ao tempo em que Jesus está falando, e não ao tempo em que Jesus se encontrará com o ladrão no Paraíso. Essa pontuação é improvável, no entanto. Era perfeitamente óbvio para o ladrão em que dia Jesus estava conversando com ele. Dificilmente era necessário que Jesus dissesse que estava falando "hoje". Este desperdício de palavras para um homem ofegante nas garras da crucificação é altamente improvável. Em vez disso, consistente com o resto da evidência bíblica para o estado intermediário (veja especialmente Fil. 1:19-26 e 2 Cor. 5:1-10), a promessa ao ladrão é que ele se reuniria com Cristo no Paraíso naquele mesmo dia.

O estado do crente após a morte é diferente e melhor do que o que experimentamos nesta vida, embora não tão diferente ou tão abençoado como será na ressurreição final. No estado intermediário, desfrutaremos da continuidade da existência pessoal consciente na presença de Cristo.

O período de provação da humanidade termina com a morte. Nosso destino final é decidido quando morremos. Não há esperança de uma segunda chance de arrependimento após a morte, e não há lugar de purgação como o purgatório para melhorar nossa condição futura. Para o crente, a morte é a emancipação imediata do conflito e da turbulência desta vida ao entrarmos em nosso estado de bem-aventurança.

Embora a morte traga descanso à alma e a Bíblia frequentemente se refira à morte pelo eufemismo do sono, não é apropriado assumir que no estado intermediário a alma dorme ou que permanecemos inconscientes ou em estado de animação suspensa até a ressurreição final.

Fonte: Ligonier

27 setembro 2023

As pessoas são basicamente boas?

É comum ouvir a afirmação "as pessoas são basicamente boas". Embora seja admitido que ninguém é perfeito, a maldade humana é minimizada. No entanto, se as pessoas são basicamente boas, por que o pecado é tão universal?

Muitas vezes é sugerido que todos pecam porque a sociedade tem uma influência negativa sobre nós. O problema é visto em nosso ambiente, não em nossa natureza. Esta explicação para a universalidade do pecado levanta a questão, como a sociedade se tornou corrupta em primeiro lugar? Se as pessoas nascem boas ou inocentes, esperaríamos que pelo menos uma porcentagem delas permanecesse boa e sem pecado. Devemos ser capazes de encontrar sociedades que não sejam corruptas, onde o ambiente tenha sido condicionado pela ausência de pecado, ao invés da presença do pecado. No entanto, as comunidades mais dedicadas à retidão que podemos encontrar ainda têm provisões para lidar com a culpa do pecado.

Como o fruto é universalmente corrupto, procuramos a raiz do problema na árvore. Jesus indicou que uma boa árvore não produz frutos corruptos. A Bíblia ensina claramente que nossos pais originais, Adão e Eva, caíram em pecado. Posteriormente, todo ser humano nasce com uma natureza pecaminosa e corrupta. Se a Bíblia não ensinasse isso explicitamente, teríamos que deduzir racionalmente a partir do simples fato da universalidade do pecado.

No entanto, a queda não é simplesmente uma questão de dedução racional. É um ponto de revelação divina. Refere-se ao que chamamos de pecado original. O pecado original não se refere principalmente ao primeiro ou original pecado cometido por Adão e Eva. O pecado original se refere ao resultado do primeiro pecado: a corrupção da raça humana. O pecado original se refere à condição caída em que nascemos.

A Bíblia ensina claramente que nossos pais originais, Adão e Eva, caíram em pecado. Posteriormente, todo ser humano nasce com uma natureza pecaminosa e corrupta. Que a queda ocorreu está claro na Escritura. A queda foi devastadora. Como isso aconteceu, está aberto a debate, mesmo entre pensadores reformados. A Confissão de Fé de Westminster explica o evento de forma simples, muito da maneira como a Escritura o explica:
Nossos primeiros pais, sendo seduzidos pela sutileza e tentação de Satanás, pecaram, comendo o fruto proibido. Este pecado deles, Deus foi servido, de acordo com o seu sábio e santo conselho, permitir, tendo proposto ordená-lo para sua própria glória. (CFW 6:1)

Assim, a queda ocorreu. Os resultados, no entanto, alcançaram muito além de Adão e Eva. Eles não apenas tocaram toda a humanidade, mas também dizimaram toda a humanidade. Somos pecadores em Adão. Não podemos perguntar: "Quando o indivíduo se torna um pecador?" Pois a verdade é que os seres humanos vêm à existência em um estado de pecaminosidade. Eles são vistos por Deus como pecadores por causa de sua solidariedade com Adão.

A Confissão de Fé de Westminster novamente expressa elegantemente os resultados da queda, particularmente no que se refere aos seres humanos:
Por este pecado, eles caíram de sua retidão original e comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado, e totalmente contaminados em todas as partes e faculdades da alma e do corpo. Sendo eles a raiz de toda a humanidade, a culpa deste pecado foi imputada, e a mesma morte em pecado, e natureza corrompida, transmitida a toda a sua posteridade descendente deles por geração ordinária. Desta corrupção original, pela qual estamos totalmente indispostos, incapacitados e tornados opostos a todo o bem, e totalmente inclinados a todo o mal, procedem todas as transgressões atuais. (CFW 6:1-4)

Esta última frase é crucial. Somos pecadores não porque pecamos. Pelo contrário, pecamos porque somos pecadores. Assim, Davi lamenta: "Eis que em iniquidade fui gerado, e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl 51:5).

Fonte: Ligonier

[Devocional] Orando Sempre

Por John MacArthur Jr 

Com toda oração e súplica, orem em todo tempo (Ef. 6:18) 

Faça da oração uma parte contínua do seu dia 

Por mais importante que seja a oração para sua vida cristã, você pode esperar que Paulo a liste como outra peça da armadura espiritual, mas ele não o faz. Em vez disso, ele a torna onipresente, instruindo-nos a orar em todos os momentos. Essa é nossa linha de vida espiritual - o ar que nossos espíritos respiram. A eficácia de cada peça da armadura está diretamente relacionada à qualidade de nossas orações.

Vemos a importância da oração em todo o Novo Testamento. Jesus instruiu Seus discípulos a estarem alertas em todos os momentos, orando para que tivessem forças para enfrentar as provações e tentações que viriam (Lucas 21:36). Os apóstolos se dedicavam à oração (Atos 6:4), assim como pessoas piedosas como Cornélio (Atos 10:2). Todo cristão deve ser continuamente dedicado à oração (Rom. 12:12).

Em Filipenses 4:6, Paulo diz: "Não se inquietem com nada, mas em tudo, pela oração e pela súplica, com ações de graças, apresentem seus pedidos a Deus." Ele disse aos tessalonicenses para "orar sem cessar" (1 Tess. 5:17) e instruiu os homens em todos os lugares a "orar, levantando mãos santas" (1 Tim. 2:8).

Jesus e Paulo não apenas exortaram os crentes a orar, mas também deram o exemplo de oração diligente em suas próprias vidas. Jesus muitas vezes passava longos períodos de tempo sozinho para orar. Paulo escreveu com frequência sobre suas próprias orações fervorosas em favor dos outros (cf. Col. 1:9; Fil. 4).

Quando criança, você pode ter sido ensinado que a oração é reservada para as refeições, hora de dormir ou cultos na igreja. Esse é um equívoco comum que muitas crianças carregam para a idade adulta. Mas os crentes devem estar em constante comunicação com Deus, o que é simplesmente o transbordamento de ver toda a vida da perspectiva Dele. Assim como você discutiria suas experiências e sentimentos cotidianos com um amigo próximo, você deve discuti-los com Deus.

Deus o ama e quer compartilhar todas as suas alegrias, tristezas, vitórias e derrotas. Esteja consciente de Sua presença hoje e aproveite a doce comunhão que Ele oferece.

Sugestões para oração
Agradeça a Deus por Ele estar sempre disponível para ouvir suas orações. Peça a Ele que lhe dê um desejo de se comunicar com Ele mais fielmente.

Para estudo aprofundado
O que estes versículos dizem sobre os momentos mais apropriados para a oração: Salmos 55:16-17, Daniel 6:10, Lucas 6:12 e 1 Timóteo 5:5?


26 setembro 2023

Dois Pontos Cruciais: sobre o Aborto

Por Augustus Nicodemus

Para os cristãos comprometidos com a Palavra de Deus, o aborto é um assunto particularmente delicado. Embora a Bíblia não contenha um mandamento direto como "Não abortarás", isso se deve ao fato de que na mentalidade israelita antiga, o aborto era impensável. As crianças eram vistas como um presente de Deus, e a gravidez era considerada uma bênção divina. Não ter filhos era considerado uma maldição. A proibição genérica "Não matarás" abrangia essa questão. No entanto, os tempos mudaram, e a sociedade moderna muitas vezes vê os filhos como obstáculos para a realização pessoal, financeira e social. A igreja deve continuar a se guiar pela Palavra de Deus, que valoriza a vida.

A HUMANIDADE DO FETO

O debate sobre o aborto gira em torno da questão de quando o embrião/feto se torna um ser humano com direito à vida. Alguns argumentam que isso ocorre apenas após um certo período de gestação, enquanto outros defendem que a vida começa na concepção, entre esses, biólogos, geneticistas e médicos. As Escrituras também confirmam que Deus considera sagrada a vida das crianças não nascidas. Apesar de algumas passagens serem difíceis de interpretar, a Bíblia ensina que o corpo, a vida e as faculdades morais do homem têm origem na concepção.

A SANTIDADE DA VIDA

A sociedade muitas vezes não reconhece a santidade da vida. Substituem o valor da vida humana por fatores utilitários e egoístas, como conveniência pessoal e financeira. A igreja deve manter o conceito de que o ser humano é feito à imagem de Deus e possui uma alma imortal, distinta de todas as outras formas de vida. A vida humana não deve ser determinada por fatores sociológicos e financeiros, mas sim pelo valor intrínseco que possui.

Diante de situações complexas como a gravidez de risco e o estupro, a solução sempre deve ser a favor da vida. A igreja deve oferecer orientação, apoio e compaixão aos que enfrentam dilemas tão difíceis. Condenação não substitui a necessidade de apoio e acompanhamento. A dor e o sofrimento das vítimas de estupro não serão resolvidos através do aborto. É importante que a Igreja esteja presente para auxiliar e orientar em momentos tão desafiadores.

Fonte: Instagram

29 agosto 2023

Conselho aos reformados

Por Augustus Nicodemus 

Com o número crescente de pessoas que chegam às igrejas reformadas oriundas de igrejas de outras tradições, gostaria de dar algumas sugestões aos líderes das igrejas reformadas que estão passando por essa experiência.

Primeiro, Deus está agindo no mundo e chamando seus eleitos, a verdadeira igreja de Cristo. Para nós é um grande privilégio receber essas pessoas e acolhê-las junto conosco, pois somos parte do mesmo corpo.

Segundo, essas pessoas virão de tradições diferentes, de igrejas diferentes, de costumes e práticas diferentes. Muitas serão tatuadas, outras pintarão o cabelo de verde, outras vão estranhar o nosso “culto frio”, outras não estão acostumadas com a estrutura de uma igreja presbiteriana e suas sociedades internas. Mas estão vindo porque querem ouvir a Palavra de Deus.

Terceiro, a igreja não nos pertence, mas ao Senhor. Ela não existe como um local confortável e seguro onde nos abrigamos aos domingos, mas como um local de desafio ao nosso conforto e nossa segurança.

Quarto, devemos estar sempre abertos para mudar e adaptar em nossa estrutura e em nosso culto aquilo que não é requerido pela Palavra de Deus e nossos símbolos de fé, com o fim de atendermos e acolhermos melhor a nova geração que chega.

Esse processo é dirigido pelo Espírito de Deus através dos pastores e presbíteros que foram eleitos como líderes espirituais da comunidade, mas sem a participação e o engajamento de cada membro, essas igrejas irão experimentar um fenômeno já conhecido: verão a chegada da primeira onda dos interessados na fé reformada e os verão sem seguida se retirando para se tornarem desigrejados ou crentes de internet.

Fonte: Instagram


20 julho 2023

O Cristão e o Governo Corrupto

Por Augustus Nicodemus Lopes 

*E O QUE OS CRISTÃOS DEVEM FAZER DIANTE DE GOVERNOS CORRUPTOS? 

Claro, tem uns mais corruptos que os outros. Os cristãos do séc. I viviam debaixo do Império Romano, baseado na força militar tendo como cabeça um homem considerado deus. Os povos dominados pagavam pesados impostos e à exceção da tolerância dada aos judeus, todos tinham que participar do culto ao imperador. Estes impostos eram usados para sustentar o império e o luxo do palácio de César e sua família, além dos nobres de Roma. Em que pese senadores que clamavam por justiça e honestidade, o sistema era corrompido até à alma. 

Os cristãos eram orientados a orar pelas autoridades - o que incluía o imperador - e pedir a Deus uma vida em paz, para que pudessem ganhar o pão de cada dia. Eram orientados a pagar os impostos, honrar o rei e a obedecerem às leis. 

Contudo, eram alertados a resistir ao poder público quando o mesmo os quisesse obrigar a ir contra Cristo. Assim, os apóstolos desobedeceram às ordens do Sinédrio de que não falassem mais de Cristo em Jerusalém, e foram presos por isto. Paulo foi preso e chicoteado várias vezes por pregar que Jesus Cristo era o único Senhor, título este que era do César. E centenas de cristãos anônimos morreram nas areias do Coliseu romano, nas mãos de gladiadores e nas garras de feras, por se recusarem a adorar o imperador. 

Apesar da corrupção do governo, da roubalheira denunciada e das mentiras contadas, os cristãos ainda deveriam orar pelas autoridades, pagar seus impostos e obedecer às leis do nosso país. Não deveriam insultar a presidente, mas orar por ela. E isto feito, usar de todos os recursos legais e permitidos na democracia para buscar mudanças. 

E se as mesmas não forem possíveis, continuar a servir a Cristo do mesmíssimo jeito, anunciando o Rei da Glória e seu Reino vindouro de justiça e paz a todos que se arrependerem de seus pecados e se submeterem a Ele como o verdadeiro Senhor e Rei do universo. 

O governo de Cristo é eterno. O de homens, não. 

*Postagem original de 2014

Fonte: Instagram


01 maio 2023

O conceito bíblico de Trabalho

Augustus Nicodemus Lopes 

Nessa segunda*, 1 de maio, comemora-se o Dia do Trabalho. A data é mais um feriado nacional. Aproveitemos a ocasião para meditar sobre o conceito bíblico de trabalho. 

A maioria dos cidadãos buscam ter as coisas da forma legal, isto é, trabalhando. Em contraste com os que procuram satisfazer seus desejos e necessidades através do furto, há os que trabalham honestamente para conseguir o que precisam. Os cristãos deveriam ser os primeiros a dar exemplo nessa área. 

Foi Paulo quem orientou os cristão de Éfeso nesse sentido: “Aquele que roubava não roube mais; pelo contrário, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o necessitado” (Ef 4.28). Há três considerações a serem feitas aqui. 

1) A preguiça e o roubo andam juntos 

Note que, no texto, o oposto de roubar é trabalhar. Não basta ser honesto – precisamos trabalhar. Nem todo preguiçoso é ladrão, e nem todo ladrão é preguiçoso, mas, sem generalizar, é a preguiça de trabalhar que leva muitos ao roubo. Roubar sempre parece mais fácil do que trabalhar duro para conseguir as coisas. 

Paulo deixa claro que o oposto de furtar é trabalhar “com as próprias mãos,” isto é, dar duro de maneira honesta. Que satisfação temos ao comer do fruto de nosso próprio trabalho honesto! 

2) O trabalho é o caminho ordenado por Deus 

Trabalhar é a forma que Deus determinou para você ter as coisas de maneira legal, sem furtar mais. Não o roubo, ou o furto, negócios ilícitos, mas o trabalho duro, com suas próprias mãos. 

A primeira coisa que o Senhor fez após criar o homem foi colocar uma enxada na sua mão, por assim dizer: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gn 2.15). E o castigo que lhe deu, após Adão ter comido do fruto proibido, foi “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3.19). 

O quarto mandamento nos ensina, “seis dias trabalharás” (Êx 20.9). Vemos que desde cedo a vocação do homem é trabalhar. É dessa forma que Deus haveria de suprir suas necessidades e dos outros. 

É para isto que você estuda, aprende uma profissão ou aprende uma arte, a negociar, a vender. É isso o que esposas e mães fazem quando se dedicam integralmente ao árduo trabalho de cuidar de sua família. 

3) Trabalhe fazendo o que é bom 

Nem todo tipo de trabalho se encaixa nessa ordem de Paulo, “trabalhe fazendo o que é bom”. Nem todo trabalho permite ao cristão fazer o que é bom. “Bom” aqui é o oposto de roubar. As mãos que roubavam agora devem trabalhar. Alguns trabalhos não podem ser considerados como “fazer o que é bom” se eles envolvem atividades ilícitas, promovem a imoralidade, a dissolução e a vida longe de Deus. 

Muitos se justificam fazendo uma distinção entre a sua fé e o seu trabalho. Eles acham que a fé não tem qualquer relação com sua vida aqui no mundo. Todavia, Jesus Cristo é Senhor de todas as áreas de nossas vidas, inclusive de nosso trabalho. Não há desculpas para quem trabalha em negócios ilícitos ou indecentes, como prostituição, contrabando, motéis, por exemplo. 

A nossa ocupação com coisas lícitas e honestas servem também para nos afastar de tentações que são comuns aos desocupados. Se estamos ocupados em ganhar o nosso pão, temos menos tempo para maquinar e executar o mal. Paulo reclamou que havia entre os tessalonicenses “pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia” (2Ts 3.11). 

Um dos conceitos básicos da fé reformada é que cada vocação é um ministério diante de Deus. Dentistas, donas de casa, carpinteiros, motoristas de táxi... o que eles fazem é tão espiritual quanto pregar um sermão. Servimos a Deus em nossa vocação, no trabalho que ele nos designou. Portanto, sejamos os melhores trabalhadores do país, para a glória de Deus.


* Texto publicado no dia 01 de maio de 2023, numa segunda-feira 

Fonte: Facebook 

[Devocional] Quando Deus diz "Não"

Augustus Nicodemus Lopes 

A Bíblia nos oferece pelo menos 3 razões pelas quais Deus deixa de atender as orações que fazemos. Existem outros motivos além desses 3 pelos quais recebemos um "não" de Deus, como por exemplo a sua soberana, secreta e mui sábia vontade. 

Entretanto, estas 3 razões são as mais comumente mencionadas na Bíblia para as negativas de Deus. 

Razão 1: Motivação errada (Tiago 4.3) 

As razões pelas quais fazemos as coisas é da maior importância para Deus. A razão final de tudo que fazemos deve ser a glória de Deus. 

Assim, quando pedimos determinadas coisas, sem que tenhamos como motivação a glória de Deus, estamos, num certo sentido, praticando idolatria. Estamos colocando nossos interesses à frente da glória de Deus. 

Não é errado pedir a Deus coisas que nos dão prazer e alegria, desde que sejam legítimas e verdadeiras. Entretanto, mesmo coisas legítimas podem se tornar ídolos. 

Além disso, não poucas vezes pedimos coisas a Deus para satisfazer desejos secretos de vaidade, projeção, prestígio ou mesmo satisfação do nosso ego. Deus, que conhece nosso coração, vê os nossos motivos e não atende esses pedidos. 

Porque você não aproveita esse momento para sondar seu coração? Você tem feito seus pedidos a Deus com as motivações corretas? Você deseja acima de tudo que Deus seja glorificado? 

Razão 2: Falta de Fé (Tiago 1.6,7) 

Outro fator que acarreta um "não" da parte de Deus é a falta de fé. Nesse contexto, fé é a confiança de que nosso Deus nos ama, é poderoso para atender nossos pedido e soberano para fazê-lo como desejar. É uma atitude humilde de aceitar qualquer que seja a sua resposta. 

A falta de fé faz com que duvidemos, no íntimo do nosso coração, da existência de Deus e do seu interesse em nos ouvir. É um ceticismo profundo da alma quanto às promessas que Deus nos fez na Bíblia. 

Quando parecer que o Senhor não vai atender o nosso pedido, sondemos o nosso coração: cremos de fato que Ele pode fazer o que pedimos? Confiamos no seu poder e na sua sabedoria? Estamos dispostos a aceitar qualquer que seja a sua resposta? 

Por que você não aproveita esse momento para sondar seu coração? Você tem confiado e descansado na soberania e na sabedoria de Deus? 

Razão 3: Pecados não tratados (Salmos 66.18) 

Com o propósito de nos levar a autoexame, arrependimento, confissão e mudança de vida, nosso Deus com frequência nega os nosso pedidos, a fim de chamar a nossa atenção para o fato de que alguma coisa está errada no relacionamento com Ele. 

Pecados que cometemos e dos quais nunca nos arrependemos - e, portanto, nunca confessados a Deus e aos envolvidos - são causa frequente de resposta negativa à oração. 

Se Deus atendesse as orações de pessoas que vivem na prática do pecado e sem qualquer arrependimento, estaria validando o pecado delas. Se Deus nos dá uma resposta negativa, devemos proceder a um exame sincero de nossa vida, confessar todo pecado conhecido e abandonar toda prática pecaminosa. 

Isso não significa que teremos de ser perfeitos moralmente para que Deus nos responda. Se fosse assim, nunca teríamos respostas. 

O que Deus requer é que nos arrependamos e confessemos a Ele todos os pecados dos quais temos consciência. Somente pecados não confessados impedem respostas de oração. 

Aproveite para sondar seu coração!

Fonte: Perfil do Instagram aqui, aqui e aqui.

02 fevereiro 2023

[Devocional] Sem acordo com o mundanismo

Juízes 1 

Vivendo sob a ameaça dos ímpios, devemos pedir o auxílio de Deus para continuarmos separados para Ele e para o evangelho. Precisamos constantemente de vitória espiritual para expulsar do nosso coração o espírito do mundo. Portanto, devemos expelir toda forma de mundanismo que há dentro de nós.

O que Judá e Simeão realizaram juntos (ver Juízes 1.3-10) com o auxílio do Senhor é um exemplo para nós. Precisamos de comunhão para ter crescimento espiritual, bem como das orações do povo de Deus e dos meios de graça ordenados pelo Senhor por meio do ministério de sua igreja. Ninguém pode viver a vida cristã sozinho.

As demais tribos não espulsaram os ímpios, mas permitiram que vivessem juntos. Isso é o quadro do crente que não vive separado para o Senhor, mas se permite viver junto com o mundanismo em seu coração. Juízes 1 nos mostra as consequências de não expulsarmos o pecado do nosso meio. Sabemos que os israelitas, ao se acomodarem na terra prometida, foram influenciados pelos povos inimigos que receberam a permissão do povo de Israel de viverem juntos, contrariando a ordem do Senhor.

Assim como Acsa percebeu a importância de fontes de água na terra seca, assim também devemos reconhecer a necessidade da graça de Deus para a nossa alma neste mundo estéril. Deus prometeu conceder seu Espírito Santo para suprir a necessidade de nosso coração desfalecido.

[Exposição] A Conversão de Naamã | 2 Reis 5.1-19

2 Reis 5.1-19 

Aqui temos a história de Naamã, o comandante militar do exército do rei da Síria. O relato da sua conversão é contada em termos dramáticos, impressionantes e memoráveis.

O verso 1 começa explicando quem era Naamã e qual a sua posição no reino da Síria: “Naamã, comandante do exército do rei da Síria, era grande homem diante do seu senhor e de muito conceito, porque por meio dele o Senhor tinha dado a vitória à Síria. Ele era herói de guerra, porém sofria de lepra”.

Naamã era um comandante valente nas batalhas, era retratado com grandeza pelo seu rei, Ben-Hadade II. Pelo posto que ocupava, era o segundo no poder. Era também honrado pelo povo sírio. Porém, mesmo com todo prestígio, autoridade e riqueza, ele era um homem condenado, pois debaixo do seu uniforme escondia-se um corpo de um leproso.

Na Síria, a lepra apenas incapacitava as pessoas das suas obrigações; Naamã, estando leproso, já não podia mais obter vitória para a Síria, o que já causava sérias preocupações. Pelo contexto, pode-se dizer que a lepra estava em seu estágio inicial, pois no verso 11 é dito que a infecção estava limitada a um único lugar. No entanto, a doença tem a tendência de se espalhar caso não seja tratada e até levar à morte.

Um ponto a se observar aqui, é quando o texto diz: “..por meio dele [Naamã] o Senhor tinha dado a vitória à Síria”. Este ponto específico da narrativa revela que o Senhor já havia operado em seu favor, dando-lhe a vitória. É um testemunho da soberania e providência de Deus mesmo sobre aqueles que não o reconhecem como Deus. Os comentaristas não são unânimes, mas há quem diga que essa vitória foi sobre os assírios. Jeová é o Deus de Israel e da aliança com seu povo e pode usar qualquer pessoa, salvo ou não, israelita ou não, para realizar sua vontade (ver Is 44.28; 45.13; Ez 30.24,25).

No verso 2, temos um relato que aparentemente não tem nada a ver com a narrativa, porém, é um relato que revela os atos de Deus sendo executado na história dos homens. Um pequeno registro que mostra a forma sutil como Deus trabalha em sua providência: “Tropas saíram da Síria, e da terra de Israel levaram cativa uma menina, que ficou ao serviço da mulher de Naamã”.

A menina havia sido trazida de uma vila saqueada para servir à mulher de Naamã. E isso revela a bondade do Senhor ao permitir que Naamã sequestrasse a menina israelita para casa a fim de servir à sua esposa.

No verso 3, temos o ponto crucial da providência divina que marcaria para sempre a história de Naamã: “Um dia a menina disse à sua senhora: — Quem dera o meu senhor estivesse na presença do profeta que está em Samaria; ele o curaria da sua lepra”. A criança testemunhou humildemente de sua fé para a sua senhora. É como se ela tivesse dito: “em Israel há um Deus que pode curá-lo”. Ela mostrou compaixão pela doença de Naamã. Suas palavras foram tão convincentes que fez a mulher contar esse testemunho ao marido que por sua vez foi contar ao rei.

No verso 4 lemos: “Então Naamã foi contar isso ao seu senhor, dizendo: — Assim e assim falou a jovem que é da terra de Israel”. Talvez Naamã se alegrou com a possibilidade de ser curado e contou ao rei na esperança de receber autorização para sair da Síria.

Nos versos 5 e 6 temos: “O rei da Síria respondeu: — Vá! Eu enviarei uma carta ao rei de Israel. Então Naamã partiu e levou consigo trezentos e quarenta quilos de prata, setenta e dois quilos de ouro e dez mudas de roupa. Levou também ao rei de Israel a carta, que dizia: ‘Tão logo esta carta chegar a você, saiba que eu lhe enviei Naamã, meu servo, para que você o cure da sua lepra’.".

Obviamente que o rei Ben-Hadade II seguiu o protocolo de enviar uma carta ao rei Jorão, pois essa era a prática que existia nas relações internacionais. Mas tanto Naamã quanto Ben-Hadade II cometeram pelo menos 2 equívocos aqui. Primeiro, ao pensarem que a atuação do profeta Eliseu estivesse debaixo das ordens do rei Jorão, pois a carta foi direcionada ao rei. Segundo, ao pensarem que, ao pedirem um favor, estariam sujeitos a darem presentes pelo favor recebido.

Na comitiva, foi levado mais de 300 kg de prata e mais de 60 kg de ouro, além de roupas e vestidos caros. A menina não mencionou nada a respeito de “presentes” para que o profeta fizesse um milagre.

No verso 7 lemos a atitude do rei Jorão à visitação da comitiva síria: “Quando o rei de Israel acabou de ler a carta, rasgou as suas roupas em sinal de medo e disse: — Por acaso sou Deus, com poder de tirar a vida ou dá-la, para que este envie a mim um homem para eu curá-lo de sua lepra? Como vocês podem notar e ver, ele está procurando um pretexto contra mim”.

O rei Jorão poderia ter se aproveitado do pedido de favor do inimigo para honrar ao Senhor e construir a paz entre a Síria e Israel, mas ele não aproveitou essa chance. Mesmo sabendo que em Israel havia um profeta que poderia curar Naamã, o rei de Israel Jorão ignorou esse fato. Ele sabia que a missão de Israel era dar testemunho às nações ímpias ao seu redor (ver Is 42.6; 49.6). Mas as preocupações de Jorão não eram de caráter espiritual, e sim pessoal e político e ele interpretou a carta como uma declaração de guerra.

Ao que parece, Jorão encarava a vida de modo pessimista, isso fica claro pela perspectiva que ele expressou ao tirar as conclusões precipitadas. Além disso, o período de reinado de Jorão foi marcado pela baixa espiritualidade em Israel, e quando ficaram sem água, ele não creu que Eliseu seria capaz de prover água para os três exércitos (ver 2 Reis 3.10,13).

Nos versos 8 e 9 lemos: “Mas, quando Eliseu, homem de Deus, ouviu que o rei de Israel havia rasgado as suas roupas, mandou dizer ao rei: — Por que o senhor rasgou as suas roupas? Deixe-o vir a mim, e ele saberá que há profeta em Israel.

Então Naamã foi com os seus cavalos e os seus carros e parou à porta da casa de Eliseu”. O profeta Eliseu estava em sua casa, em Samaria, mas sabia o que estava acontecendo no palácio do rei Jorão pois Deus não esconde nada dos seus servos daquilo que precisam saber (ver Am 3.7).

O rei não poderia fazer coisa alguma, mas o profeta era um canal do poder de Deus. Eliseu sabia que Naamã precisava ser humilhado antes de receber a cura. Acostumado com os protocolos do palácio, o comandante estimado esperava ser reconhecido publicamente e receber expressões de honrarias exageradas pelos presentes que havia trazido consigo.

O profeta fez Naamã percorrer mais 50 km até a sua casa. Porém, Eliseu sequer saiu de casa para receber Naamã. Em vez disso, enviou um mensageiro instruindo o comandante a percorrer mais 50km até o rio Jordão. Lá ele deveria mergulhar 7 vezes para se purificar e ficar curado da lepra. É o que vemos no verso 10: “Eliseu lhe mandou um mensageiro, dizendo: — Vá e lave-se sete vezes no Jordão, e a sua carne será restaurada, e você ficará limpo”.

Provavelmente Naamã já estivesse meio que se chateando com a situação. Primeiro se dirigiu ao rei, na cidade de Samaria (distante de Damasco, capital da Síria, uns 150km). Daí, os eventos que se sucederam fizeram ele ir até a casa do profeta. Chegando lá, o profeta, através de um mensageiro, pede pra ele ir até a um rio que dista mais 50 km!

Daí lemos no versos 11 e 12 sobre o aborrecimento de Naamã: “Mas Naamã ficou indignado e se foi, dizendo: — Eu pensava que ele certamente sairia para falar comigo, ficaria em pé, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, passaria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso. Por acaso não são Abana e Farfar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Será que eu não poderia me lavar neles e ficar limpo? Deu meia-volta e foi embora muito irritado”.

O general Naamã enfurece-se e a causa fundamental dessa ira foi o seu orgulho. Ele já havia decidido em sua mente como o profeta iria curá-lo, mas não é assim que Deus trabalha.

Deus já havia começado a trabalhar no orgulho de Naamã. Ele percebeu que o rei Jorão não era capaz de curá-lo, percebeu que o profeta, além de não ter ido ao palácio, mandou mensagem que fosse até a casa dele. Chegando na casa do profeta, foi recebido não pelo dono da casa mas sim por um mensageiro. Além disso, deveria mergulhar num rio sujo não uma, mas sete vezes.

E pensar que ele era um grande general, o segundo no comando da Síria! Naamã já havia determinado de que modo o profeta deveria realizar a cura e se zangou pelo fato do homem de Deus não seguir com aquilo que ele esperava.

Por acaso é diferente dos dias de hoje? As pessoas desejam ser salvas de seus pecados participando de rituais religiosos, filiando-se a uma denominação, dando dinheiro à igreja, mudando de vida, fazendo boas obras e outras práticas semelhantes… Tudo isso em substituição a uma ação bem simples: depositar sua fé em Jesus Cristo. Só isso! É exatamente isso que Tito nos ensina: “... não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia. Ele nos salvou…” (Tt 3.5).

Naamã tinha um outro problema: preferia os rios de Damasco em vez do lamacento rio Jordão. Acreditava que a cura viria da água, de modo que o mais lógico era pensar que, quanto melhor a água, melhor a cura! As águas em Abana e Farfar vinham das neves das montanhas ao redor de Damasco, de modo que era pura e fresca. Talvez ele estivesse pensando que seria melhor percorrer 160 km de volta para Damasco a percorrer só mais 50 km e obedecer a Deus. Ele estava tão perto da salvação, e ao mesmo tempo longe! Mas Naamã precisava aprender que os caminhos do Senhor são mais elevados que os nossos (ver Is 55.8,9).

Lemos nos versos 13-15a: “Então os seus oficiais se aproximaram e lhe disseram: — Meu pai, se o profeta tivesse dito alguma coisa difícil, por acaso o senhor não faria? Muito mais agora que ele apenas disse: ‘Lave-se e você ficará limpo.’ Então, Naamã desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua pele se tornou como a pele de uma criança, e ficou limpo. Depois ele voltou ao homem de Deus, ele e toda a sua comitiva”.

Mas uma vez vemos o Senhor usando pessoas ímpias para cumprir com os seus propósitos. Os servos de Naamã (pagãos) o persuadiram a desistir do orgulho humano e, sendo convencido, foi curado. A fé que não conduz à obediência na verdade não é fé. Quando o comandante saiu da água, viu que havia se curado da lepra e sua pele estava como a pele de uma criança. Usando a linguagem do Novo Testamento, havia nascido de novo (ver Jo 3.3-8). O orgulhoso Naamã tinha se tornado um homem novo, humilde, puro, semelhante a uma criança. No Novo Testamento é comum usar a figura de uma criança para representar a pessoa convertida, regenerada, nascida do alto: “Em verdade lhes digo: se vocês não se converterem e não se tornarem como crianças, de maneira nenhuma entrarão no Reino dos Céus” (Mt 18.3).

Neste momento, Naamã perdeu o orgulho e perdeu a lepra. Essa é a sequência pela qual os pecadores orgulhosos e rebeldes são convertidos.

Vemos nos versos 15b-17: “Veio, pôs-se diante dele e disse: — Eis que, agora, reconheço que em toda a terra não há Deus, a não ser em Israel. E agora, por favor, aceite um presente deste seu servo. Porém ele respondeu: — Tão certo como vive o Senhor , em cuja presença estou, não aceitarei nada. Naamã insistiu com ele para que aceitasse, mas ele recusou. Então Naamã disse: — Se você não quer, então peço que seja permitido a este seu servo levar duas mulas carregadas de terra; porque este seu servo nunca mais oferecerá holocausto nem sacrifício a outros deuses, a não ser ao Senhor”.

Como todo convertido, Naamã tinha muito a aprender. Os primeiros comportamentos após a conversão refletem isso. Seu desejo de recompensar o profeta foi natural, mas se o Eliseu tivesse aceitado os presentes, daria a entender que todo o crédito da cura fosse dele e tiraria a glória que pertencia a Deus. Além disso, teria passado uma imagem para Naamã a impressão de que seus presentes de alguma forma tinham relação com a cura. Toda a glória deve ser dada a Deus, tão somente. O Senhor nos salva para o louvor da glória de sua graça (ver Ef. 1.6, 12, 14). Abraão recusou os presentes do rei de Sodoma, Daniel recusou a oferta do rei, Pedro e João rejeitaram o dinheiro de Simão (ver Gn 14.17-24; Dn 5.17; At 8.18-24).

Depois, Naamã perguntou se poderia levar consigo uma porção da terra de Israel para a Síria, a fim de usá-la em sua adoração. Naquele tempo, as pessoas acreditavam que os deuses de uma nação habitavam naquela terra, e quem saísse daquela terra deixava o deus para trás. Por causa desse entendimento, Naamã queria uma porção da terra como lembrança de sua “bênção”.

Nos versos finais 18 e 19, vemos Naamã surpreendendo com um pedido. Pela sua posição de comandante do exército sírio, muito provavelmente ele acompanhava o rei Ben-Hadade II ao templo de Rimom, um deus sírio equivalente ao deus Baal. E ele faz o seguinte pedido: “Mas que o Senhor Deus perdoe o seu servo uma coisa: quando meu senhor, o rei, entrar no templo de Rimom para ali adorar, e ele se encostar no meu braço, e eu também tiver de me encurvar no templo de Rimom, quando assim me prostrar no templo de Rimom, que o Senhor Deus perdoe este seu servo por isso. Eliseu lhe disse: — Vá em paz. Quando Naamã tinha se afastado certa distância…”.

Naamã estava disposto a realizar esses rituais externamente, mas queria que Eliseu soubesse que não o faria de coração. Ele anteviu que sua cura e sua vida transformada teriam impacto sobre a corte do rei. Ao ouvir o pedido de Naamã, Eliseu apenas disse: “vá em paz”. Essa era a bênção habitual da aliança que os israelitas invocavam quando as pessoas partiam de viagem. Vemos Naamã com a sensibilidade de não mostrar que estaria adorando ídolos. Ele recebeu garantias de que Deus compreendia o seu coração. O profeta iria sim interceder por ele e confiar que Deus o usaria em seu novo ministério na Síria. Que grande testemunho Naamã poderia ser naquele país de trevas!

Aplicações práticas

A experiência de Naamã com Eliseu ilustra para nós a obra da graça de Deus ao salvar os pecadores perdidos.

1) Assim como a lepra, o pecado não se atém à superfície, mas atinge as camadas mais profundas, espalha-se, contamina, isola e só serve para ser queimado pelo fogo (ver Lv 13).

2) Vemos a perspectiva em desenvolvimento do Senhor como controlador de todos os eventos, mesmo os eventos de ímpios, nos caso da vitória da Síria do verso 1 e do conselho dos servos de Naamã no verso 13.

3) Temos o evento que corrobora com o ensino do Novo Testamento registrado em Romanos 8.28: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” no caso da menina raptada. Deus aprouve que aquela criança fosse sequestrada e raptada para servir de escrava numa casa onde ela seria usada para dar o "pontapé inicial” dos eventos futuros que acarretaria na conversão de Naamã.

4) Nunca subestime o poder de um simples testemunho, pois Deus pode pegar as palavras dos lábios de uma criança e levá-las aos ouvidos do rei.

5) Ainda sobre o testemunho da criança, ela não levou para o lado pessoal o fato de ter sido tirada de sua família. Ela se lembrou que Deus poderia salvar aquele que o sequestrou e mesmo assim “soltou” a possibilidade de salvação de Naamã. Não desejou que ele morresse de lepra, mas se comoveu e não permitiu que seu coração se enchesse de vingança.

6) Nossa salvação não é obtida dando presentes a Deus, mas sim recebendo pela fé sua dádiva de vida eterna (ver Ef 2.8; Jo 3.16, 36; Rm 6.23). Não sejamos presunçosos de achar que a melhor maneira de Deus agir é de acordo com o nosso “achismo”, pois quem decide como agir é Ele, e não nós.

7) Quanto mais nos afastamos de Deus e de sua Palavra, mais longe ficaremos de enxergar as oportunidades que Deus coloca diante de nossos olhos para anunciar salvação aos perdidos, e muito menos de ver os atos providenciais de Deus em nossa vida.

8) Humildade e fé produzem libertação a todos. Arrogância, soberba e orgulho são fatores cruciais para nos afastarmos de Deus e nos aproximarmos da perdição. Antes de os pecadores poderem receber a graça de Deus, devem sujeitar-se à vontade do Senhor. Como diz Donald Grey Barnhouse: “Todos têm o privilégio de ir para o céu à maneira de Deus ou para o inferno à sua própria maneira”.

9) Devemos ficar alertas à constante exposição em ambientes que nos enfraquecem para que não subestimemos nosso poder de resistência.

24 janeiro 2023

[Devocional] Morte e Ressurreição

E, se Cristo não ressuscitou, é vã a fé que vocês têm, e vocês ainda permanecem nos seus pecados. (1 Coríntios 15.17)

Morte e ressurreição estão lado a lado, andam de mãos dadas, pois quando a morte é mencionada, tudo que é peculiar à ressurreição está incluso. Como também o inverso é verdadeiro: quando a ressurreição é mencionada, tudo que é peculiar à morte está incluso.

Mas Jesus por ter ressuscitado, obteve a vitória e tornou-se a ressurreição e a vida e por isso Paulo diz "...Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou o qual está à direita de Deus e também intercede por nós" (Romanos 8.34.).

Já que a mortificação de nossa carne depende da comunhão com a cruz, devemos também compreender que há um benefício correspondente derivado da ressurreição de Jesus. Por isso Paulo diz "...como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos..., assim também andemos em novidade de vida" (Romanos 6.4).

Da mesma forma, a partir do fato de estarmos mortos com Cristo, "fazei pois morrer a vossa natureza terrena" (Colossenses 3.5), de mesmo modo, a partir do fato de sermos ressuscitados com Cristo, "...buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus" (Colossenses 3.1).

Essa verdade nos assegura um benefício: nossa própria ressurreição, da qual temos por Cristo nossa mais perfeita e verdadeira representação. Essa é a nossa esperança: se Cristo ressuscitou, seremos ressuscitados também, pois como Paulo disse: "se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a essa vida, somos as pessoas mais infelizes deste mundo"(1Coríntios 15.19).

Portanto, esta é a certeza do crente em Jesus: todos nós iremos passar pela morte, mas seremos ressuscitados e viveremos por toda a eternidade junto com Jesus: "Temos certeza de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus dentre os mortos, da mesma forma nos ressuscitará com Ele e nos apresentará convosco" (2 Coríntios 4:14).

17 janeiro 2023

[Devocional] O Jugo Suave

Nathaniel Vicent 

Porque o meu jogo é suave, e o meu fardo é leve. Mateus 11.30 

Pelo fato de Cristo ser tão compassivo, certamente não é razoável reclamar e recusar a submeter-se ao Seu jugo. Um jugo tão misericordioso como esse deve ser um jugo suave; e o Seu fardo é um fardo leve (Mt 11.30). O reino do Céu é como um casamento; se a submissão da esposa a um marido terno e indulgente é doce e agradável, muito mais agradável é a submissão do crente a Cristo. Os ímpios são estranhamente preconceituosos a respeito do cetro e do governo de Jesus; mas não há justificativa para isso. Eles dizem: “Não queremos que esse Senhor reine sobre nós”. É misericordioso ser transportado para o Reino, porque você será liberto de todos os outros senhores, que são ditatoriais, cruéis e recompensam com a morte todos os serviços que lhes são prestados. Todos os preceitos de Cristo são benéficos para você, e Ele não lhe impõe qualquer proibição exceto aquilo que Ele vê que pode lhe ser prejudicial. Penso que, ao ler essas palavras, o mais obstinado de todos deveria render-se e dizer: “Deixamos o Senhor da vida do lado de fora, mas foi um erro; não pensávamos que servir a Ele significava estar tão próximo da liberdade; imaginávamos que Suas ordens eram cruéis, portanto as abandonamos, mas agora devem ser mais valorizadas que o ouro, sim, o ouro mais fino, e são mais doces do que o mel e o favo”.


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Sobre o autor:
Nathaniel Vincent (1639–97). Nasceu em Cornwall e graduou-se pela Christ Church, Oxford, em 1656. Foi nomeado capelão do Corpus Christ College e, posteriormente, exerceu o cargo de pastor em Buckinghamshire. Após a Grande Expulsão de 1662, Vincent passou três anos como capelão particular antes de mudar-se para Londres em 1666. Foi multado, maltratado e literalmente arrastado do púlpito por pregar. Vincent passou vários meses na prisão e foi banido do país, porém um erro em sua acusação evitou que a sentença fosse executada. Enfraquecido pelo confinamento, Vincent faleceu em 1697. Publicou vários sermões ao longo da vida.

Fonte: Pão Diário